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quarta-feira, 3 de abril de 2019

RELIGIÃO POR QUILO


Por razões de trabalho e passeio já comi em muitos e variados restaurantes, em vários países, desde os chiques até o muquifo. Há uns sete anos voltei a um bom restaurante que eu frequentei nos década de oitenta. Lá entrando vi que tudo estava mudado. O garçom que veio me atender eu o reconheci dos tempos em que lá estive. Perguntei: “há quanto tempo o senhor trabalha aqui?”. Há mais de 40 anos, responde ele. Eu repliquei: eu sei disto porque o senhor já me atendeu várias vezes há vários anos. Ele então medisse: “naquele tempo isto aqui era um restaurante, hoje é um comedor. Tenho vergonha de trabalhar aqui porque esta coisa de comida self-service e por quilo é uma desgraça”.
O difícil é encontrar um bom restaurante na maioria das cidades que visito. E nestas andanças descobri que os restaurantes por quilo são todos iguais. A mesma variedade, os mesmos temperos, um pouco mais quente neste ou mais frio naquele. Alguns com reposição imediata, outros que esperam acabar para repor. As mesmas saladas, o mesmo arroz e feijão, a mesma macarronada (alho e óleo ou à bolonhesa), as mesmas sobremesas.
Perguntei um dia ao dono de um restaurante destes (onde comi muitas vezes ao longo de doze anos). E ele me disse: “se eu inventar e colocar comida diferente, acaba sobrando. Os clientes preferem sempre o mesmo”.
Isto tem acontecido com as igrejas e religiões. Se a gente vai a uma Presbiteriana, Metodista, Batista, Assembleia ou igreja independente, a mudança entre uma e outra será mínimo, cosmético. Todas adotam o mesmo cardápio: muito louvor capitaneado por um grupo de jovens, com mini sermões entre uma música e outra, orações genéricas, pregação sem contribuição da reflexão do pregador (mais do mesmo) e benção final.
Parece que as pessoas vão em busca de um cardápio igual, mas em locais diferentes, tal como faço quando estou em uma cidade por dois ou três dias: como em restaurantes diferentes, ainda que saiba que o cardápio é o mesmo.
Nas igrejas isto acontece. As pessoas vão hoje ao restaurante presbiteriano, no domingo seguinte ao restaurante batista central, depois ao nazareno e assim por diante. Tal como nos restaurantes por quilo, cada um pega o que gosta e na quantidade que consegue comer. E, na quase totalidade das vezes, a comanda vem: o momento das ofertas!
O chef aparece vestido de terno e gravata ou com vestes talares típicas dos sacerdotes, há certa pompa na sua presença porque é o vox Dei daquele restaurante. Tal como nos restaurantes por quilo que compram os ingredientes em locais especializados, com pre-parados, muitos dos sermões são buscados em sites. O sermão virou commodity: toma-se emprestado sem citar a fonte, compra-se um já feito, faz-se uma colcha de retalhos com as ideias de vários autores e lá vai a gororoba alimentar os clientes daquele domingo.
Estava ouvindo uma pregação juntamente com um amigo e, acerta altura, o pregador falou algo que não era do estilo e nem da capacidade intelectual do orador. Imediatamente meu amigo pegou o celular e achou onde o sujeito tinha “roubado o sermão”. Sobra de outro restaurante servido como comida recém feita.
Não aguento mais comida por quilo e nem igreja da mesmice!
Marcos Inhauser