Estou estarrecido e indignado, e como eu, acredito, há muitos outros brasileiros. Tivemos nos últimos dias alguns eventos que marcaram de forma indelével o judiciário brasileiro.
De um lado, a
aposentadoria do Decano da Corte, ministro Celso de Melo, quem, por 32 anos
atuou no STF, onde, por sua seriedade e competência ganhou a credibilidade
indispensável a quem o cargo ocupa. Conhecido por suas decisões solidamente
embasadas, fruto de muita dedicação e estudo, seus votos eram irretocáveis.
Avesso ao estrelismo, pouco se via dando entrevista extemporâneas. Limitava-se
aos autos e falava pela sentença prolatada.
Em ato de profundo
desrespeito a este que tanto contribuiu, o governo indicou, antes mesmo de sua
jubilação, o seu sucessor. Caso raríssimo e, talvez, único na história judicial
mundo afora. E para ser ainda mais indelicado, indica para sucedê-lo alguém com
postura garantista, contrária ao posicionamento justo e equânime do jubilante.
A ideia que fica é que o queriam ver pelas costas o quanto antes, porque seus
votos não agradavam os áulicos de plantão.
Este evento momentoso
da jubilação de quem deu a sua vida ao Judiciário, teve a translucidez tisnada
pelo nome indicado para sucedê-lo. Adepto do currículo pavoneado de um outro
quase ministro, inchou o seu com cursos breves como se Mestrado, Doutorado e
Pós-Doutorado fossem. Se a constituição requer do indicado ao cargo notório
saber e reputação ilibada, o indicado tem sua reputação tisnada pelos cursos
listados. De tal celeuma ele tenta se safar dizendo que foi erro de tradução,
resposta muito próxima da que deputados, senadores e outras autoridades dão
quando são questionados e dizem que foram mal interpretados.
Para completar a
barafunda instalada, tem-se o habeas corpus concedido pelo novo Decano, o
ministro Marco Aurélio, aliviando a barra de um condenado duplamente, em
segunda instância, com penas que, somadas, chegam aos 25 anos. Questionado,
valeu-se de retórica e hermenêutica enviesada e saiu-se que ele não olha capa de
processo, mas conteúdo. Duvido que leu o conteúdo. Se leu e deu o habeas
corpus, o fato é grave porque deve explicar por que, mesmo sabendo da dupla
condenação e do risco de sua libertação, decidiu monocraticamente ou sequer
solicitou informação ao juízo que emitiu a sentença de prisão preventiva. Se
não leu o conteúdo, deu sentença temerária, passível de admoestação, que é o
que o Presidente do STF, ministro Fux, indiretamente fez.
Sabe-se que há duas
correntes no STF: os garantistas (Mendes, Levandowski e Toffoli) e a outra ala
chamada de punitivista. De minha vontade gostaria que todos fossem
justicialistas, no sentido de que, lendo o texto do processo, o contexto dos
fatos anteriores e a situação presente no momento da sentença, se buscasse a
justiça.
Para a minha cabeça, é
muita coincidência que casos escabrosos caiam quase sempre nas mãos dos
garantistas. Deve-se lembrar que foram eles que garantiram a liberdade ao
médico Abdelmassih, ao banqueiro Cacciola, ao dono dos ônibus no Rio, o Jacob Barata Filho. É o Gilmar
que reverte todas as decisões do juiz Marcelo Bretas, algo que, para mim, é
mais que uma questão de divergência legal, mas é pessoal. E o beneficiado agora
é o André do Rap.
Estou com as barbas de molho, esperando o que vai acontecer
com os processos das rachadinhas, do foro privilegiado do senador e da
interferência na PF por parte do chefe da família.
Marcos Inhauser