Em conversa com alguns colegas pastores temos levantado e
trabalhado a questão de uma geração que tem se mostrado conservadora e
agressiva. As conversas iniciaram-se a partir da pergunta: como é que os grupos
terroristas islâmicos conseguem arregimentar jovens, grande parte deles
instruídos e vivendo em países com alto grau de desenvolvimento? A pergunta
decorrente foi: como é que movimentos radicais, dentro do cristianismo, têm
conseguido arregimentar jovens?
Esta pergunta, se bem me lembro nasceu com a notícia de que a
Universal havia formado um pelotão de jovens denominado “Guardiões do Altar”,
os quais, entre outros cânticos tem este: “Eu não temo a Batalha / Nem o contra ataque do mal / Eu não
temo a tempestade / Fui selado para vencer / Eu já me armei com o escudo da fé
/ E o capacete da salvação / Não temerei vou enfrentar / Eu correrei pra
conquistar/ E saltarei pra celebrar / Gritarei e as muralhas cairão”. O
espírito beligerante é claro. O fundamentalismo extravasa pelos poros.
O jovem Dylann Storm Roof, de 21 anos, se achou no
direito de entrar em uma igreja negra e matar nove pessoas que participavam de
um culto em uma igreja em Charleston. Na sua justificativa, afirmou que queria uma
guerra civil com tendências supremacistas dos brancos. Em seguida, várias
igrejas negras foram incendiadas.
Há outro tipo de
violência dos jovens que ocorre, com mais frequência na internet, em locais
onde está aberta a troca de opiniões e se pode fazer comentários.
Invariavelmente, as colocações feitas são de cunho agressivo, ofensivo,
violento. Há enorme dificuldade em aceitar que alguém possa ter posição
diferente, mesmo que seja superficial. Em um destes sites “evangélicos” li
comentários dignos de briga entre torcedores de times rivais, inclusive com o
uso de palavrões. Alguns amigos me confidenciaram que tinham a ideia romântica
de que poderiam fazer alguma diferença postando algumas observações críticas ou
ponderações sobre o que outros haviam escrito. Desistiram. Um deles, de
tradição ortodoxa, o que mais levou foi pedrada de outros ortodoxos.
Guga Chacra, que
escreve para vários jornais e revistas e comenta temas internacionais na Globo,
em seu blog no Estado afirma: “Comentários islamofóbicos, antisemitas e antiárabes
ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados.
Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem
em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. ... O blog está
aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes.” Pelo visto ele
também já foi vítima de muitas pedradas.
A recente
turbulência na Câmara Municipal de Campinas sobre a questão do ensino sobre
gêneros nas escolas é prova desta virulência. Todos queriam falar, ninguém
estava disposto a ouvir. Ofensas mil, acordo nenhum. Não houve diálogo, mas
diátribe.
Dia destes um
amigo teólogo, com doutorado na área, me perguntou se eu estava acompanhando os
ataques dos fundamentalistas à “ingênua teologia da missão integral”. Disse que
não. Ele me informou que os fundamentalistas estão atacando o conceito de
missão integral (o evangelho todo para o homem todo) como tergiversação dos
ensinos bíblicos. Preferem esquartejar o ser humano em “corpo, alma e espírito.
Talvez façam isto pela falta de outro inimigo, porque a teologia da libertação
já não vige como antes e a teologia relacional muito pouco adentrou no Brasil.
Assustadoramente,
em pleno século XXI, estamos vendo o ressurgir de ideias de supremacia racial,
de discriminação religiosa, de violência assassina contra a diferença.
Marcos Inhauser