Esta coluna eu a tenho na mente há alguns
anos. Não vou colocar nome na pessoa por algumas razões: levaria uma baita
bronca dela (quem detesta holofote), quem a conhece sabe que estou falando dela
e quem não a conhece o que importa saber é que há anjos de carne e osso.
Por várias vezes e sempre pela mesma razão
tive que adiar a publicação, porque, em vista da saúde dela, poderia parecer
que o que escrevo é comiseração. Queria escrever o que vou dizer em um contexto
de saúde. Não consegui e se o faço é porque quero dar a ela uma palavra de
alento.
Eu a conheço há uns 46 anos. Ainda na
pré-adolescência, foi daminha de honra do meu casamento. Desde então venho
acompanhando sua vida e sempre a admirei por sua atitude positiva frente à vida
e seus percalços. Acompanhei sua juventude, casamento, filhas e desenvolvimento
profissional. Sempre admirei seu compromisso com a fé e a maneira como vive de
maneira prática e significativa a vida cristã abençoando todos quantos a
conhecem.
Há algumas coisas que nela me edificam e me
fazem admirar. A sua disponibilidade constante em ajudar aos outros. Enumerar
as vezes e os fatos em que ela esteve envolvida fazendo algo em benefício de
alguém é trabalho sem fim. Seu coração alegre e generoso tem sido benção. Dizer
do seu trabalho maravilhoso na igreja como pianista é falar o óbvio.
Filha de um pai abençoado e abençoador e de
uma mãe que se entrega de alma ao ministério de oração, ela pegou o DNA dos
dois: abençoadora com palavras, ajuda e orações. Leva a sério a recomendação
bíblica de que a mão esquerda não deve saber o que a direita faz. Assim, o que
dela sei foi por testemunho de outros e nunca porque ela tenha me contado.
No auge de sua vida descobriu-se com um
câncer no seio. Encarou-o com serenidade, fez o que devia ser feito, levantou a
cabeça e continuou sendo o mesmo anjo que sempre foi. Alguns anos mais tarde
descobriu um câncer no fígado. A mesma determinação e enfrentamento. Daí veio o
do pâncreas e depois, outra vez, o do fígado. Continua sendo o anjo que sempre
foi.
Dia destes conversávamos e ela contava o
quanto tem tido a oportunidade de ajudar pessoas que estão na mesma condição,
quando das aplicações que deve fazer. Abatida pelo tratamento prolongado, tem
mostrado uma fé abençoadora. Assim são os anjos!
Não entendo por que Deus faz estas coisas.
Por que Ele bota de molho alguém que fez da sua vida uma benção para muitos?
Por que ele deixa familiares, amigos e abençoados por ela no estresse de
acompanhar a evolução do seu tratamento? Porque alguém cheio de vida precisa
ficar de molho até recuperar as forças para continuar fazendo o que sabe fazer:
abençoar? Por que Deus permite que anjos adoeçam e ainda mais de câncer?
Ela é a negação da teologia do mérito. Ela
não merece o que está passando porque, se Deus é verdade que abençoa os retos e
castiga os injustos, ela nunca deveria ficar doente.
Tô brigando com Deus por causa dela. Sei
que vou perder a briga, mas sou honesto em dizer a Deus o que penso: Ele está
errando com este anjo! Já passou da hora de curar este anjo!
Marcos Inhauser