Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador Sábio. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sábio. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O SÁBIO E O PROFETA


Na cultura grega ser considerado sábio era o ápice. Tal reconhecimento não era fruto de autoproclamação, auto reconhecimento ou petulância de quem assim se arvorasse. Ser sábio era o fruto de longa caminhada no saber e no discernimento das coisas. O sujeito inteligente, ou o que muito sabe, não, necessariamente, era sábio. Por outro lado, o sábio, não necessariamente, precisava ser dotado de acúmulo de saber, mas de percepção clara das coisas, dos fatos, das pessoas.
Trazendo para nossos dias, o sábio não é quem tem um PhD em algo, ou um título de Livre Docência, que tenha escrito muita coisa ou livros. O sábio pode ser alguém que, não tendo caminhado as trilhas do saber acadêmico, entende das coisas, normalmente as comezinhas. Não é um autodidata (que se caracterizam pela arrogância), mas alguém que aprendeu no convívio social, nas interações humanas e nas comunicações ecléticas. No dizer de Gramsci, acho, é o intelectual orgânico.
Na cultura hebraica e na semita, o ápice era ser profeta, no sentido de ser uma pessoa inserida na comunidade e que se compromete com a história. Tanto no sentido hebraico como no grego, a palavra que fala do profeta, não é a do vidente. Ainda que possa haver textos onde a conotação aparece, considerada no seu strictu sensu o profeta é o “que fala da parte de”, é o mensageiro, a pessoa dos recados. Daí porque ocorre com frequência a expressão “veio a mim a palavra do Senhor dizendo”, “vai e dize ao meu povo”, “assim disse o Senhor”
No ambiente hebraico, o profeta era alguém da comunidade, que vivia os dilemas sociais e econômicos dela, e se comprometia com a denúncia dos erros e pecados, especialmente dos dirigentes e governantes. O profeta tinha um compromisso radical com os pobres, viúvas, órfãos, estrangeiros, sujeitos prediletos dos exploradores e governantes injustos. Daí porque, no mais das vezes, a palavra profética é a da denúncia, do juízo sobre esta casta exploradora, sempre em favor dos menos favorecidos. A pregação profética da esperança futura não tem nada de visão, antecipação ou premonição, mas é o desejo genuíno de que haja mudanças na situação. Mais que uma revelação antecipatória é uma aspiração sublimatória do momento presente pela esperança futura.
Colocadas e explicitadas estas coisas, não preciso de muito espaço para afirmar que a relação profeta/reis/governantes/pseudo sacerdotes é espúria. O profeta não se assenta com os escarnecedores, com os exploradores, com os que praticam injustiças. Ele fica de fora destes círculos, dos palácios e só se dirige a eles para denunciar seus pecados e injustiças. Ele também se dirige aos explorados para dizer: vai haver troco, vai haver novos tempos, aguenta que Deus vai virar o jogo! O casamento do profeta com o governante é adultério e promiscuidade. Pior que isto é o governante se apropriar dos símbolos e discursos da religião, para passar a imagem de que seu governo é ungido e que ele faz a vontade de Deus. Quer parecer sábio ao dizer quem é terrivelmente evangélico.
Devemos lembrar que algumas das piores ditaduras que a humanidade conhece e viveu foram ditaduras religiosas, seja em nome de Javé, de Alá, ou outro deus qualquer. O presidente que se acha messias é um risco aos governados. Assim foram Pinochet, Hitler, para citar dois dos mais recentes. O messianismo que acreditavam e sustentavam validava as coisas que faziam. Uma coisa é ter metas no governo, outra é ver isto como missão com tempero religioso e discurso pseudoteológico.
Também acintoso é o governante que vai aos templos e se arvora pregador e recebe benção de sacerdotes que estão sub judice.
Marcos Inhauser