Não é
de hoje que conheço e admiro o trabalho de pesquisa histórica que a professora
Rute Salviano Almeida desenvolve, recuperando vozes femininas caladas pela
Igreja. Ela traz a público mais um trabalho de sua lavra e pesquisa.
Lança amanhã
seu livro “Uma voz feminina calada pela Inquisição”, no qual apresenta o
contexto do final da Idade Média, o papel feminino e a vida das beguinas,
mulheres que se dedicaram ao cuidado dos menos favorecidos, tornando-se mestras
da vida e artesãs da alma.
A
personagem central de seu livro é Margarida Porete, beguina itinerante que foi
a primeira mulher queimada pela Inquisição francesa, em 1310. Ela ousou
escrever e divulgar suas ideias na língua do povo, quando a permitida era
somente o latim, considerada língua sacra. O livro apresenta o Tribunal da
Inquisição, com textos da época, bulas condenatórias e o processo que levou
Margarida à morte.
Como
em seu primeiro livro “Uma voz feminina na Reforma”, a escritora destaca o
silêncio das mulheres na História e o alto preço pago pela ousadia de falar,
pois o discurso público da mulher equivalia a uma perversão no cenário da Idade
Média.
No
livro são apresentadas as mulheres como mães, esposas e “escravas da moda”,
mostrando como o sexo feminino sempre sofreu em nome da beleza. As mulheres
medievais depilavam os cabelos da testa com cal, devido à moda do penteado
alto, no qual tinham que mostrar uma testa exageradamente grande.
Na
conclusão, a autora reflete sobre as diferenças e semelhanças entre aquela
época e a atual. Mais que isto, há que considerar-se que no meio religioso
(tanto cristão, como muçulmano e judeu) a mulher continua calada. Poucos são os
espaços em que ela pode expressar o que sente e pensa. Ao negar-lhe o acesso ao
sacerdócio e à ordenação pastoral, calam suas vozes, mesmo quando elas
representam, em média, 67% de todas as igrejas cristãs e religiões.
Na Idade
Média, apesar de enfrentar pestes, inundações, guerras e crer que Deus era juiz
vingativo e cruel, não queriam ser afastadas da fé, pois ela lhe dava segurança
em meio à vida cheia de temores. Nesta pós-modernidade, por seu turno, acha-se
vergonhoso crer nas doutrinas, preferindo “desconstruir” dogmas. Ao fazer isso,
não conseguem colocar nada no lugar e acabam vivendo perdendo a esperança. Talvez
isto explique a falta de empolgação, de brilho nos olhos da nossa geração, gente
disposta a levar às últimas consequências seus ideais.
Se a
Idade Média foi uma época de temores, hoje o sofrimento é a pobreza, violência,
corrupção e desemprego. A fé continua a ser o único esteio da humanidade; se
dava esperança ao homem medieval, continua a dar ao homem de hoje.
Uma pessoa que dedicou a vida a recuperar a voz das
mulheres silenciadas, merece o apoio até dos homens. O livro pode ser encontrado no site da Hagnos (www.hagnos.com.br)
Marcos
Inhauser