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quarta-feira, 7 de março de 2012

A VOZ FEMININA CALADA PELA INQUISIÇÃO


Não é de hoje que conheço e admiro o trabalho de pesquisa histórica que a professora Rute Salviano Almeida desenvolve, recuperando vozes femininas caladas pela Igreja. Ela traz a público mais um trabalho de sua lavra e pesquisa.
Lança amanhã seu livro “Uma voz feminina calada pela Inquisição”, no qual apresenta o contexto do final da Idade Média, o papel feminino e a vida das beguinas, mulheres que se dedicaram ao cuidado dos menos favorecidos, tornando-se mestras da vida e artesãs da alma.
A personagem central de seu livro é Margarida Porete, beguina itinerante que foi a primeira mulher queimada pela Inquisição francesa, em 1310. Ela ousou escrever e divulgar suas ideias na língua do povo, quando a permitida era somente o latim, considerada língua sacra. O livro apresenta o Tribunal da Inquisição, com textos da época, bulas condenatórias e o processo que levou Margarida à morte.
Como em seu primeiro livro “Uma voz feminina na Reforma”, a escritora destaca o silêncio das mulheres na História e o alto preço pago pela ousadia de falar, pois o discurso público da mulher equivalia a uma perversão no cenário da Idade Média.
No livro são apresentadas as mulheres como mães, esposas e “escravas da moda”, mostrando como o sexo feminino sempre sofreu em nome da beleza. As mulheres medievais depilavam os cabelos da testa com cal, devido à moda do penteado alto, no qual tinham que mostrar uma testa exageradamente grande.
Na conclusão, a autora reflete sobre as diferenças e semelhanças entre aquela época e a atual. Mais que isto, há que considerar-se que no meio religioso (tanto cristão, como muçulmano e judeu) a mulher continua calada. Poucos são os espaços em que ela pode expressar o que sente e pensa. Ao negar-lhe o acesso ao sacerdócio e à ordenação pastoral, calam suas vozes, mesmo quando elas representam, em média, 67% de todas as igrejas cristãs e religiões.
Na Idade Média, apesar de enfrentar pestes, inundações, guerras e crer que Deus era juiz vingativo e cruel, não queriam ser afastadas da fé, pois ela lhe dava segurança em meio à vida cheia de temores. Nesta pós-modernidade, por seu turno, acha-se vergonhoso crer nas doutrinas, preferindo “desconstruir” dogmas. Ao fazer isso, não conseguem colocar nada no lugar e acabam vivendo perdendo a esperança. Talvez isto explique a falta de empolgação, de brilho nos olhos da nossa geração, gente disposta a levar às últimas consequências seus ideais.
Se a Idade Média foi uma época de temores, hoje o sofrimento é a pobreza, violência, corrupção e desemprego. A fé continua a ser o único esteio da humanidade; se dava esperança ao homem medieval, continua a dar ao homem de hoje.
Uma pessoa que dedicou a vida a recuperar a voz das mulheres silenciadas, merece o apoio até dos homens. O livro pode ser encontrado no site da Hagnos (www.hagnos.com.br)
Marcos Inhauser