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terça-feira, 19 de março de 2013

MUDANÇAS À VISTA?

Quando da eleição do sucessor de João Paulo II, escrevi aqui que foi eleito quem já era. Dizia eu: “Os cristãos mais progressistas da América Latina, notadamente os que se alinharam à Teologia da Libertação, às comunidades Eclesiais de Base ... e ao movimento ecumênico ... não estão ... satisfeitos com a eleição do Cardeal alemão Ratzinger como o novo papa ... Creio até que este mesmo sentimento está presente em todos os que esperavam um papa ... mais alinhado com os novos tempos, com as descobertas da ciência, com as grandes questões sociais, éticas e políticas deste início de século XXI. Não há como esquecer que ... Ratzinger foi a eminência parda por trás do pontificado de João Paulo II, quem, como ideólogo influente dentro da estrutura de poder do Vaticano, colocou muitas das cores que marcaram o último pontificado. Com ... certeza, saiu dele a orientação para uma maior centralização do poder em Roma, retirando dos cardeais e bispos ... espaços de poder, quem determinou uma linha teológica ... conservadora, quem foi o ideólogo para o desmonte da Teologia da Libertação, quem esteve por trás das disciplinas de Leonardo Boff, Hans Kung e outros que ousaram levantar uma voz destoante da afinação decretada pelo Vaticano” (20/04/2005).
Tenho para comigo, e há muitos que vão discordar, que o papado de Ratzinger foi um dos mais fracos do último século. Quando da sua renúncia escrevi: “Especulo ... que Bento XVI nunca foi unanimidade na igreja. Uma coisa é o discurso formal, o rosário de elogios que bispos fazem. Outra ... é o que vai na alma e no coração. Converso com muitos católicos, clérigos e leigos, e nunca percebi que a eleição de Bento XVI fosse consenso. Houve quem tivesse dito que tiveram que engolir a eleição “goela abaixo”. Por suas posições quanto à Teologia da Libertação, ele tinha sérios questionamentos por parte de latino-americanos. Questionado na sua eleição, no seu posicionamento teológico (essencialmente conceitual, tratando de temas que não são pertinentes à realidade de povos da África, Ásia e América Latina) e enfrentando a luta por espaço por parte de grupos que atuam no interior da Cúria, só lhe restou a renúncia.”
Talvez eu tivesse que acrescentar: renunciou ao papado quem nunca foi papa.
A eleição do Cardeal Bergoglio indica, pelos primeiros sinais, mudanças. A primeira na suntuosidade e opulência que os anteriores costumavam ostentar. A segunda, a escolha do nome que, se for harmônica com os princípios de Francisco de Assis, será um papado franciscano, voltado aos pobres e com preocupação ecológica (coisas que já foram sinalizadas pelo novo papa). A terceira, sua vocação pastoral e não acadêmica. Ele é mais de abraçar e sorrir que produzir encíclicas sobre temas que não são preocupação dos fiéis, como foi o caso do seu antecessor.
Resta saber como ele tratará os temas da Cúria, do Banco e dos crimes sexuais de pedofilia. No entanto, esperar mudanças mais radicais em temas como casamento de padres, homossexualidade, aborto, controle da natalidade, uso de preservativos, é esperar milagre.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

QUASE 600 ANOS DEPOIS


A última vez que um papa renunciou ao papado foi em 1415, renúncia perpetrada por Gregório XII.  A alegada razão para a renúncia (problemas de saúde e incapacidade de atender às demandas do papado) são plausíveis. No entanto, aprendi que não se deve confiar nas explicações singulares aos fatos. Não há nada que aconteça por uma única causa. Acredito que há várias outras causas subjacentes, muitas das quais ficarão no campo das especulações, pois não acredito que um dia Bento XVI virá a público revelá-las.
De minha parte tenho também o direito de especular sobre as outras razões não explicitadas.
Sabemos que a igreja (seja católica, protestante, pentecostal ou neopentecostal) atravessa período de severa crise que se deve, em parte, à insistência em manter um discurso desatualizado e que não reponde às questões da humanidade no século XXI. Novas e angustiantes questões foram e estão sendo levantadas e a igreja não tem sabido responder, e no caso específico de Bento de XVI, preferiu voltar ao passado, reafirmando que se havia dito. O mesmo ocorre com os fundamentalistas e os puritanos (na Igreja presbiteriana). Depois de Aquino e Calvino, nada de novo se disse. Deve ter havido uma pressão muito forte da ala mais arejada da igreja para que ele cedesse em questões como uso de anticoncepcionais, da camisinha, do casamento dos clérigos, etc.
Outro elemento que, a meu ver, dever ter pesado é que a igreja romana é europeia. Está na Europa, vive a Europa, tem um papa germânico. Na Europa, desde o fim da Segunda Guerra Mundial avançou o secularismo e as igrejas perderam a vitalidade e a pujança. São bispos e papa europeu os que estão a dar as diretrizes para a igreja ao redor do mundo. Onde a igreja tem mostrado vitalidade? Na África, América Latina e Ásia. Qual a voz que estes povos têm no centro do poder romano? É um secretário aqui, outro nomeado ali, mas a igreja terceiro-mundista não apita na proporção do seu vigor e pujança. Acredito que Bento XVI sentia a pressão por voz e voto por parte de bispos africanos, asiáticos e latino-americanos.
Especulo ainda que Bento XVI nunca foi unanimidade na igreja. Uma coisa é o discurso formal, o rosário de elogios que bispos fazem. Outra, bem diferente, é o que vai na alma e no coração. Converso com muitos católicos, clérigos e leigos, e nunca percebi que a eleição de Bento XVI fosse consenso. Houve quem tivesse dito que tiveram que engolir a eleição “goela abaixo”. Por suas posições quanto à Teologia da Libertação, ele tinha sérios questionamentos por parte de latino-americanos. Questionado na sua eleição, no seu posicionamento teológico (essencialmente conceitual, tratando de temas que não são pertinentes à realidade de povos da África, Ásia e América Latina) e enfrentando a luta por espaço por parte de grupos que atuam no interior da Cúria, só lhe restou a renúncia.
Marcos Inhauser