Estava eu dando um curso para uma
empresa. Ali estava a equipe de vendas e eu, não sendo um vendedor, estava
mostrando algumas características da comunicação. A certa altura entrei no
estudo da etimologia e significado corrente da palavra “convencer”. Dizia eu
que a palavra, strictu sensu,
significa “com+vencer” ou “vencer com”, implicando, desde o ponto de vista
meramente etimológico, duas ou mais pessoas vencendo uma batalha ou uma
disputa.
Em seguida mencionei que este
sentido, ainda que próprio e afeito à origem da palavra, não era empregado no
dia-a-dia. Comecei mostrando que, quando se “convence alguém”, se “vence este
alguém”. Se há um vitorioso (o que venceu), há um derrotado (o que foi
vencido).
Ampliando o conceito, dizia que o
“com+vencimento” é a vitória pela qualidade dos argumentos que se mostraram
superiores aos argumentos do outro. O que “convence” cala o oponente por ser
mais hábil na argumentação. Se se trabalha com convencimento, o que se tem é
gente derrotada à volta. Elas buscarão formas e meios para provar que os
argumentos que a derrotaram, eram falhos ou equivocados. Farão de tudo para
mostrar isto. Quem “com+vence” cria inimigos.
A esta altura, um dos
participantes pediu a palavra e disse que havia feito um curso com o Doutor
Bambam, PhD em Comunicação e Semiótica, e que ele havia ensinado que o que se
deve fazer é convencer, usando argumentos fortes e irrefutáveis. Era a palavra
do Dr. Bamban contra a minha. Se eu tentasse provar que eu não aceitava isto
porque acredito errado, estaria tentando convencer o meu interlocutor. Fiquei
em uma saia justa. Para sorte minha era horário de almoço e eu disse: voltamos
ao assunto quando na parte da tarde.
Saí dali com a cabeça fervendo.
Não sabia como sair da enroscada.
Ao voltar do almoço, ainda não sabia como sair do beco
sem saída. Nesta hora me lembrei de uma palavra de Jesus: “vos entregarão aos tribunais e às sinagogas;
sereis açoitados, e vos farão comparecer à presença de governadores e reis ...
Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o que
haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque
não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.” Tirei o texto do contexto e
apliquei àquela situação (Deus que me perdoe por este pecado hermenêutico!).
Assim que recomecei eu
perguntei ao que me questionava: Você já ouviu a expressão que os 11 jogadores
de futebol convenceram o time contra o qual jogaram? O sujeito pensou e meio acabrunhado
disse que não. Ninguém no grupo havia ouvido a frase. Perguntei mais: Vocês já
ouviram a frase que o time tal venceu, mas não convenceu? Todos haviam ouvido,
inclusive o que me questionava. Perguntei o que a frase queria dizer. Houve
quase unanimidade (um só silêncio, previsível): quer dizer que ganharam o jogo,
mas que a qualidade do futebol apresentado não foi a melhor. Venceram o jogo,
mas não convenceram.
Pelo exposto, entendo que
há gente que pode ser “com+vencida”, mas não ficar convencida. Daí porque,
entendo, antes de se atirar à inglória tarefa de derrotar o outro pela
qualidade dos argumentos, deve-se preferir a persuasão (fica para outra
oportunidade o tema), que é a arte de seduzir o outro para apoiar o que se
propõe.
Espero ter “com+vencido”
com meus argumentos e que você esteja concencido da validade deles... Se isto
acontecer, serei um sujeito convencido de minhas habilidades...
Marcos Inhauser