Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ASSASINATO DE ESTADO

Esta é a forma como alguns governos estão classificando o ataque de Israel à frota de ajuda humanitária que buscava chegar à Zona de Gaza. O que aconteceu é digno de nota e repúdio. É inadmissível, sob quaisquer argumentos e pretextos, que uma ajuda humanitária levada por mais de 500 pessoas de várias nacionalidades, seja impedida e de cumprir com seu cometido. Se se considera que o evento deu-se em águas internacionais e que a ajuda se destinava a uma região massacrada pelo estado de Israel, que tem impedido de forma sistemática que as ajudas, mesmo as da ONU cheguem aos necessitados, o caso se reveste ainda de maior gravidade. O assassinato não só se deu em alto mar, mas se dá a cada dia quando mulheres, crianças, jovens e velhos são impedidos de receber o que o mundo lhes destina. O que Israel tem feito com os palestinos na Faixa de Gaza é o que aprendeu com os alemães nazistas nos campos de concentração. Replicam o que condenam sistematicamente, mostrando-se como vítimas de um genocídio praticado por Hitler, mas fazem isto para extermínio dos palestinos, por crer na superioridade da raça, por crer-se nação eleita. Se na Alemanha de Hitler a supremacia era vendida na genética ariana, em Israel a supremacia é vendida na superioridade religiosa. E causa espanto a leniência dos Estados Unidos e a fraqueza da ONU em condenar as sucessivas violações cometidas por Israel. Tivesse o barco sido atacado pelo Irã, os sionistas sairiam em coro pedindo a guerra e destruição do Irã. Se o ataque fosse árabe, montanhas de papéis de condenação seriam produzidos. Mas como é o estado queridinho dos EUA e de várias nações européias, o que se vê é uma condenação formal e um pedido de investigação imparcial. Haja ingenuidade de nossa parte para agüentar este teatro mais uma vez. Não estou aqui defendendo os árabes, nem judeus. Estou querendo mostrar que o discurso da “nação eleita, povo escolhido de Deus”, pode ter sido aplicado a Israel pelos antigos, mas, tenho a convicção que não se aplica a este estado pós 48. Pode um estado destes ser abençoado? Só se o é pelo analfabetismo bíblico de pregadores autoordenados e praticantes de uma espiritualidade cega e sionista. É um estado tão podre como o é outros que são achacados, e com razão, pela mídia e pelo público. Vide Coréia do Norte, Zimbabue, Irã, Venezuela e etc... Marcos Inhauser

PETULÂNCIA

O excêntrico cientista americano J. Craig Venter, e sua equipe do instituto que leva seu nome, dizem ter desenvolvido a primeira célula controlada por um genoma sintético. O estudo, publicado na revista Science, pode representar o início de uma nova era na biologia sintética e na biotecnologia. A equipe liderada por Venter havia conseguido sintetizar quimicamente o genoma de uma bactéria e feito um transplante de genoma de uma bactéria para outra. Agora juntaram as duas técnicas para criar a "célula sintética", onde apenas o genoma é sintético, mas a célula que recebeu o genoma é natural, não sintetizada pelo homem. A façanha alvoroçou a equipe e outros envolvidos na manipulação genética, ao ponto de se afirmar que "isto se torna um instrumento poderoso para que possamos tentar determinar o que queremos que a biologia faça. Temos uma ampla gama de aplicações (em mente)", disse Venter. Eles planejam criar algas que absorvam dióxido de carbono e criem novos hidrocarbonetos. Eles também procuram formas de acelerar a fabricação de vacinas, a criação de novas substâncias químicas, ingredientes para alimentos e métodos para limpeza de água. Indevidamente, houve quem afirmasse que se havia criado a vida a partir de informações genômicas guardadas em computador, o que, para os leigos, parecia computador virando vida. Mas o que me chamou a atenção foi a discussão acalorada que se deu em seguida, com cientistas apressando-se em afirmar que isto provaria que não foi Deus quem criou a vida, que ela é fruto do acaso pela aleatoriedade que permitiu que um dia, em determinado lugar, se juntassem todos os elementos indispensáveis à vida e esta surgiu espontaneamente e daí adiante por reprodução e evolução. Ouvi um deles afirmar que se Deus criou algo, o que Ele criou foi, no máximo, uma “gosma biológica” que evoluiu para se ter a vida no nível que hoje se conhece. Não estou negando nem afirmando o evolucionismo, nem o criacionismo. Estou me rebelando contra a petulância de quem se julga capaz de, com um arroubo de retórica a la Lula, decretar a inexistência de Deus. Para mim é muito mais fácil acreditar que Deus criou do que acreditar que o acaso produziu condições para que milhares, se não milhões de variáveis, se harmonizassem para que a vida surgisse. É muita sorte e acaso envolvidos. Marcos Inhauser

GOLS NA PRORROGAÇÃO

Gols na prorrogação não são fatos isolados, acontecem com certa frequência e trazem muita alegria e tristeza, dependendo do time para o qual se torce. O time ganhador verá nos minutos adicionais a providência divina para salvar o time da derrota. Para o perdedor, fica o gosto amargo de ter sido roubado, vítima de erro da arbitragem e tudo o mais que se pode atribuir ao fato. No que se refere à Copa de 2014 há indícios de que algo parecido está para ocorrer. Nas negociações para quer o país fosse o escolhido para sediar a Copa, muitas cidades se apresentaram como candidatas a sede dos jogos, com promessas de estádios construídos ou reformados, prazos factíveis estipulados, cálculo de custos com as obras, promessa de que não haveria dinheiro público na empreitada, etc. Passados meses de tais promessas, da escolha das sedes e da largada para o evento, nada ou quase nada foi feito em termos de se atender ao que prometido foi. Onde se vê alguma coisa sendo feita é na iniciativa privada, em estádios a eles pertencentes. Na esfera pública a coisa vai a passos de cágado. Em muitos casos nem a licitação ainda foi feita. Isto leva a uma prática comum nos governos municipal, estadual e federal: deixar as coisas para última hora para depois contratar sob regime de urgência, quando preços e sobrepreços sobem astronomicamente. Tal ocorreu por ocasião dos Jogos Panamericanos, quando o orçamento inicial foi estourado várias vezes e até hoje ninguém foi punido. Ao preço elevado das obras em regime de urgência, há também um relaxamento na fiscalização, porque os prazos precisam ser cumpridos e as obras devem ser levadas a “toque de caixa”. Gente extra precisa ser contratada, turnos noturnos são necessários e isto tudo favorece o desvio, a corrupção e o enriquecimento de uns poucos e financiamento de campanhas políticas. Quem acompanha os noticiários com certa acuidade, notará que as empreiteiras são alvo de denúncias constantes. São também as maiores contribuintes “por dentro” e “por fora” dos partidos e políticos. Não há mês que não apareça alguma investigação que se depare com a participação nada transparente das construtoras, sem que nunca sejam punidas. A muitas vezes pedida CPI dos Corruptores nunca saiu do papel. O lobby é poderoso e generoso. Há a denúncia de que uma delas pagou as aventuras amorosas e o sustento do filho de um senador, também exímio criador de gados, tendo tudo para ser enquadrado no Guiness pelos sucessivos recordes de produtividade animal. O senador continua lépido e faceiro, dando as cartas na república sindicalista. Marcos Inhauser

PEDOFILIA EVANGÉLICA

Tenho constatado certa alegria disfarçada entre alguns pastores e membros de igrejas chamadas evangélicas com as recentes e crescentes denúncias de pedofilia por parte de clérigos católicos. Há na atitude uma ingênua avaliação de que tal não ocorre nos arraiais evangélicos porque grande parte destas igrejas prega a santidade e seus pastores são casados. Apontam ainda o fato de que, até agora, nenhum caso foi revelado e os que o foram não ganharam repercussão. Ledo engano. Sendo minha esposa alguém que atua na área do aconselhamento e terapia familiar há mais de vinte anos, posso afirmar que os casos são bem mais constantes do que faz supor o certo silêncio sobre o assunto que paira sobre tais igrejas. Resguardado pela ética do trabalho feito, só posso afirmar que, sim, há casos de pastores pedófilos, de membros de igrejas que são abusadores e estupradores. A igreja evangélica não está livre das estatísticas que mostram ser os familiares os principais abusadores. Neste sentido mostra-se significativo a convocação para o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes para 18 de maio, no qual será feita uma marcha com o intuito de mobilizar as crianças, adolescentes, sociedade e governo, a combater essa violação de direitos. A convocatória é feita pela Comunidade do Estudante Universitário (CEU), como comunidade cristã que realiza projetos junto à comunidade universitária em Campinas, especialmente no distrito de Barão Geraldo, e a Makanudos de Javeh, ONG que atua nas escolas públicas realizando projetos que visam a reforma social pelo resgate de valores éticos. Em Campinas, os trabalhos foram iniciados na escola Hilton Federici, situada em Barão Geraldo. Também foi criado o site www.estaacontecendoagora.com. O principal objetivo da marcha em Campinas é impactar e alertar a população acerca da problemática, com finalidade de impulsionar discussões e ideias para que a sociedade e as igrejas evangélicas possam enfrentar e atacar essa realidade de maneira mais efetiva. A saída da marcha está prevista para as 10:00 horas no largo do Rosário. Além da marcha, as igrejas e pastores estão sendo convidados a introduzir o tema em suas prédicas e aulas de Escola Dominical. Marcos Inhauser

SINDICALISMO PELEGO

Ficou patente neste primeiro de maio a diferença entre os sindicatos ao redor do mundo e o sindicalismo brasileiro. O noticiário trazia manifestações em várias partes do mundo, todas enfocando direitos e reivindicações dos operários. Talvez, a mais candente delas tenha sido a dos sindicatos gregos que convocaram os operários para protestar contra o anunciado corte de salários e aumento de impostos. Tanto em Atenas quanto em Tessalônica a coisa esquentou nos enfrentamentos entre manifestantes e polícia. Na Espanha a coisa também foi movimentada. Com uma taxa de desemprego nas alturas, sindicatos chamaram às ruas para protestas contra as políticas do governo. Na Alemanha não foi diferente. Lá também a polícia teve de intervir. Países como Portugal, Suíça e Áustria também tiveram suas mobilizações e protestos por conta do dia do trabalho. Aqui, na terra da República Sindicalista, a coisa foi bem diferente. Centrais Sindicais, endinheiradas com o imposto sindical onde cada trabalhador brasileiro, sindicado ou não, contribui compulsoriamente com um dia de trabalho, fizeram festa chapa branca. Financiados por estatais, promoveram shows, sorteios e transformaram o palco das apresentações em palanque de candidatura oficial. O sindicalista-mor foi ao evento e se gabou de “nunca na história um presidente se apresentou em uma concentração de trabalhadores depois de sete anos de governo”. Dinheiro público, via estatais e bancos, pagaram a conta de um sindicalismo que tem seus dirigentes e ex-dirigentes lotados nas Diretorias de Estatais, ganhando polpudos subsídios pela contribuição que dão nestes Conselhos Deliberativos. Tente saber onde estão estes sindicalistas. Vamos a alguns exemplos: Jair Meneguelli ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi promovido Presidente do Conselho Nacional do Sesi. Heiguiberto Navarro, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é assessor do Secretário Nacional de Estudos e Políticas da Presidência da República. João Vacari Neto ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo é membro do Conselho Nacional de Itaipu. Paulo Okamoto, ex-tesoureiro da CUT é presidente do SEBRAE. Luis Marinho, ex-presidente da CUT, acabou virando ministro da Previdência e atualmente é prefeito de São Bernardo. Wilson Santarosa, do Sindicato dos Petroleiros de Campinas, é gerente de comunicação da Petrobrás e membro do Conselho Deliberativo da Petros. João Antonio Felício, ex-presidente da CUT é membro do conselho do BNDES. O Vicentinho virou prefeito Outros mais poderiam ser citados. Salário médio destes novos dirigentes do capitalismo de Estado: R$ 25.000,00 mensais. Deste jeito fica fácil achar patrocínio oficial para os convescotes de primeiro de maio, pois estão todos lotados em áreas “estratégicas”. O sindicalismo chapa-branca e pelego se transformou na militância político partidária, com dirigentes pelegos apoiando a candidata oficial. Marcos Inhauser

RUIM DILMAIS

Estava girando os canais da televisão para encontrar algum que estivesse dando notícias e eis que me deparo com o programa do Datena (na minha opinião, devia ir para o Guiness pela capacidade de repetir as mesmas frases ad nausean). No início, confesso que não a reconheci. Quando a reconheci, fiquei com dó. Mais parecia a Dona Xepa. Um figurino do tipo comprado em camelô, uma postura de quem estava desconfortável. Fui forçado a reconhecer que era ela, a candidata nascida a fórceps. Sua presença, postura e fala foram ruins dilmais. Ela parecia mais um ET que uma candidata a presidente. Senti insegurança, desconforto e falta de molejo para responder às perguntas. Sofrível. Comecei a me perguntar o que será do horário eleitoral gratuito. Aguentar o Serra tentando ser professor, a Dilma vendendo ser cria do Lula (mas que nem com DNA se acha traços de parentesco), a Marina com seu discurso monótono-ambietalista. As perspectivas de se melhorar o quadro com os vices parece que também que está fadada ao enfadonho. Temer, Dornelles e Guilherme Leal. Deste jeito, a cada programa que assistir, vou tomar um Prozac. Mas a cara de ET da Dilma deve ser vista junto com algumas outras coisas. A cara que ela tem hoje, não é a cara que ela tinha e deveria ter ao natural. A plástica que fez mudou a cara (acho que o mesmo cirurgião plástico que fez as plásticas da Elza Soares fez a da Dilma e a da primeira dama). O seu currículo acadêmico também passou por uma plástica, que arredondou formas incluindo um doutorado em Ciências Econômicas na Unicamp que nunca fez. Depois soube-se que seu relatório sobre as obras do PAC também tinham cirurgias plásticas, indicando realizações não feitas. Nas andanças com o gurumór, inaugurou obras inacabadas, plástica de mostrar o que não existe. O PAC2 rejuvenesce obras do PAC1, outra obra plástica. Nestes dias descobriu-se que ela é ruim dilmais também na net: colocou em seu site (http://www.dilmanaweb.com.br/) uma foto de juventude que não é sua, mas da Norma BengelL, participando de passeata no Rio. Os desavisados vão engolir gato por lebre e achar que ela é quem está na foto do meio, porque a da esquerda e da direita são dela. Confesso que recebi outra foto da Dilma, em uniforme militar e com um charuto na boca. Nesta ela estava mais à vontade que diante das câmeras do Datena e mais natural que a foto da Norma Bengell. Parece que o povo simples é quem está com a razão: é a Vil-má Duxefe! Marcos Inhauser

PALAVRAS MÁGICAS

Quero falar palavras mágicas. Quero falar da educação com sua realidade de um sistema educacional elitizante, gerado por empresários-educadores, que vendem a peso de ouro o diploma que habilita ao exercício de uma profissão, pago às custas da fome dos filhos, embrulhado com palavras mágicas como "doutor", "bacharel", etc.. Quero colocar minha inquietação com o currículo que se obedece nos anos de estudo, quando ensinam palavras mágicas como "competição", "competência", "excelência", "carreira profissional". Ensinam a obediência a processos, mas sem nos alertar que procedimentos, normas, princípios, podem ajudar na execução ou amarrar e escravizar. Fazem-nos entendidos em processos, mas não em pessoas. Ensinam-nos a lidar com as palavras, mas não nos mostram como trabalhar com o próximo. Um ensino que não nos leva a ver no próximo, ser humano, imagem e semelhança de Deus, mas a considerá-lo funcionário, cliente, paciente. E cliente é palavra mágica: ela provoca o aparecimento do dinheiro. Dinheiro, palavra mágica. Tem o poder de comprar o direito e de assassinar a justiça. Compra pareceres, fabrica laudos, acelera o andamento processual, mas também pode paralisá-lo. Compra favores, corrompe, lubrifica engrenagens burocráticas, aluga horas de carícias e amor. A palavra dinheiro transforma pessoas em milionários. A palavra dinheiro abre portas antes fechadas, incrementa o número de amigos. Pobre. Eis aqui uma palavra, a única talvez, que não seja mágica. A palavra pobre não tem poder, não cria coisas, não abre portas. Pobre não é cliente: é paciente; não é cliente: é réu. O pobre não tem advogado, tem "assistência jurídica" que a magia das palavras dos ricos transformou em "justiça gratuita". Mas a magia das palavras revela coisas. Se há "justiça gratuita", há "justiça paga”, e seria isto eufemismo para "justiça comprada"? Pobre. Objeto de desprezo, pessoa jurídica portadora de deveres e obrigações, nunca de direitos. Elemento indesejável nas ante-salas de consultórios e escritórios. Palavra amorfa e inócua. Pobres não tem casa, terra, comida, saúde, médico. Não tem direitos, não recebe justiça, não tem advogado. Advogado. Palavra com apelo: provém de "ad" mais "vocare" no sentido de "chamar ao lado de", "chamar para estar junto de". A idéia está ainda mais clara no grego "parácleto", que comporta a idéia daquele que ajuda, anima, intercede, defende a causa alheia". Advogado, portanto, está mais para sinônimo de amigo, na dimensão daquele que se dá a favor do próximo, principalmente o próximo necessitado. Advocacia é algo muito próximo do sacerdócio, do ministério de servir, de amparar necessitados, de lutar pelos direitos de outrém. Ocorre que, pela prática de alguns (e o plural aqui é significativo porque abrangente) conseguiram a mágica de transformar a advocacia, sinônimo de amizade e sacerdócio, em algo que induz a pensar em trambique. Advocacia-sacerdócio e advocacia-amizade aprende-se nos bancos escolares e no convívio com mestres e profissionais do Direito que vivem a realidade da verdadeira advocacia. Quais verdadeiros sacerdotes e amigos, servem eles de exemplo e modelo. Marcos Inhauser

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A MAGIA DAS PALAVRAS MÁGICAS

Eu não entendia bem. Era muito prá minha cabeça: por que tanta celeuma sobre o orador da turma? A minha confusão aumentou ainda mais quando decidiram pedir uma prévia aos possíveis oradores. Eu me perguntava: prá que tanta coisa, tanto medo, tanto controle se o que orador fará é ir à frente, num dia de festa, prá dizer algo a um auditório desatento e a formandos em vias de despedir-se? Prá mim, ser orador da turma era o cumprimento de uma formalidade, um dizer por dizer, um falar às paredes. Mas se o orador da turma profere discurso tão inócuo quanto eu cria, era muito prá minha cabeça o processo que estávamos vivendo prá ver se me deixavam falar às paredes no dia da formatura. Então surgiu-me a suspeita de que, ainda que nem todos ouçam o que diria, isto tem poder muito grande sobre os que prestam atenção. Poderá ser pequeno frasco com poderoso veneno ou suave aroma reconfortante. Se pode ser veneno ou perfume, o problema se resume nas palavras empregadas. Tudo vai da escolha certa das palavras para o momento certo. Seria julgado se escolhi bem ou mal as palavras. Mais recentemente pensei que estas meditações antigas se aplicavam também a escrever semanalmente esta coluna. Palavras. Proferir ou escrevê-las. Esta é a minha missão. Tenho consciência de que usar palavras transcende ao emitir sons ou grafar com tinta. Não é o concatenar palavras de forma a dar sentido ao que falo. O mundo das palavras é um mundo mágico, que faz aparecer o oculto, cria sensações, ilude, esconde. Magia é a tentativa humana de manipular os deuses. Palavras mexem com os deuses e eles podem não gostar. Palavras tiram os véus que encobrem e trazem à luz o que estava oculto e isto pode não agradar. Palavras revelam, diagnosticam, amaldiçoam e bendizem, fazem revoluções e guerras, celebram acordos, estabelecem a paz. Palavras provocam iras e paixões; amor e ódio; ofendem e acariciam; destroem e constroem. Palavras constroem mundos, realizam sonhos, concretizam a Utopia. Compram votos com oferta de empregos. Palavras entram no coração do ser humano. Palavra, a maior ferramenta que alguém possui, traço indelével da obra criadora de Deus. Não emito sons. Não falo às paredes. Não sou orador porque orador é quem fala bonito, esperando o aplauso e o elogio ao final da fala. Não discurso. Discurso é próprio de palanque, onde a verborragia fácil vende ilusões, qual camelô vendendo ervas medicinais. Gosto da magia. E qual mágico que de sua cartola e fraque tira coisas escondidas, quero também eu tirar da cartola do meu coração inquietações, coisas que muitos não sabem que lá existem. Qual mágico, quero tirar para fora do meu coração, não as pombas brancas, meigas e dóceis, mas a dura realidade de um país onde uma minoria de latifundiários, banqueiros e empresários mata à fome parcela da população, usando para escamotear a realidade palavras mágicas como "justiça social", "reforma agrária" "desenvolvimento", "produtividade" e outras mais. Marcos Inhauser

terça-feira, 6 de abril de 2010

PEDOFILIA E RELIGIÃO

Os recentes casos de pedofilia que vieram a público envolvendo sacerdotes são coisas que vão saindo das catacumbas do silêncio dos que sofreram, exigindo a abertura dos arquivos canônicos dos que se silenciaram. Quando o pedófilo é um religioso, seja ele sacerdote católico, pastor evangélico, pai-de-santo, ou seja lá o que qual título tenha em função de sua função religiosa, a figura do sagrado e o simbólico que se encarnam nestes líderes têm uma forte carga emocional e religiosa, desequilibrando as relações de poder entre estes e seus fiéis. As palavras dos religiosos, no imaginário dos fiéis, estão muito próximas de ser “vox Dei”. Eles falam em nome de Deus e muitos falam e agem como se deuses fossem. Esta aura do sagrado que acompanha a figura do religioso é também compreendida pelo imaginário popular associada à santidade dos atos, palavras e pensamentos. Por conseguinte, quando um religioso faz uma abordagem sensual ou uma investida sexual, há nesta sua ação um poder muito maior que a mesma ação feita por um leigo ou não religioso. A investida clerical tem a capacidade de apresentar-se como algo divino, sagrado, isento de culpa ou pecado. No imaginário de quem sofre a investida, pode ocorrer a idéia que aceder às insinuações ou investidas sexuais de um religioso é forma de agradar a Deus, porque se está agradando a um “servo de Deus”. Assim, o ato hediondo pode revestir-se de sacralidade e o pecado do abuso ser entendido como salvação. Um dado a ser considerado neste contexto é que muitas vezes os religiosos manejam informações passadas em confessionários, aconselhamentos ou sessões. Nos casos mais recentes que se conhece, havia a condição de internos em instituição ou de coralistas. As pessoas procuram religiosos para abrir a eles problemas, dificuldades, traumas, abusos. Elas se expõem a eles no desejo sincero de serem ajudadas, orientadas, ouvidas, entendidas, amadas. Muitas confessam suas fraquezas, tropeços, necessidades, carências. O uso indevido destas informações, especialmente para valer-se delas em uma investida sexual, é algo tão ou mais ignominioso que usar sedativo para entorpecer a vítima. Quando esta investida se dá com crianças ou adolescentes a coisa se torna monstruosa. Se no imaginário de pessoas adultas já há a possibilidade de confundir e misturar a pessoa humana com o sagrado que ela representa, o que não passará na cabeça de crianças que sofrem a investida de um “servo de Deus”? Elas foram ensinadas que os religiosos são pessoas sérias, confiáveis, que exigem certos comportamentos de seus fiéis, como não roubar, não matar, não mentir, honrar pai e mãe. Mas eles nunca ouviram de púlpito que não podiam ser abraçados, tocados ou beijados pelo sacerdote, pastor ou religioso, mesmo porque estes temas são proibidos nos púlpitos e nas classes de catequese ou estudo bíblico. Marcos Inhauser

IGREJA DOS ESCÂNDALOS

Há quem se assuste com recentes episódios escandalosos envolvendo as igrejas. Nestes dias, as acusações de pedofilia contra clérigos católicos, acusações que remontam quase duas décadas e que já obrigou a Igreja Católica a fazer acordos, chegou bem perto do papa. Na Alemanha, Irlanda, Bélgica Estados Unidos e Brasil, pipocaram denúncias e surgiram possíveis vítimas de tais abusos. No entanto, parece-me que muitos há que se esquecem de algumas coisas relacionadas a escândalos e a igreja. Se olharmos para a narrativa evangélica vamos perceber que o ato maior da vida de Cristo se deveu a um escândalo: no círculo mais próximo a Jesus, um seu discípulo roubava e o vendeu por trinta moedas de prata. Mais adiante um pouco, quando a igreja dava seus primeiros passos houve o escândalo de Ananias e Safira, que mentindo, retiveram parte do produto da venda de um imóvel. Um pouco mais adiante, vamos encontrar o escândalo das viúvas dos helenistas que estavam sendo preteridas na distribuição da comida, o que levou a igreja a criar o diaconato. Há ainda o caso do mago Simão, que quis comprar o dom do Espírito para com ele ganhar algum dinheiro, gerando o termo “simonia”, mais tarde usado para os que vendiam ou compravam postos eclesiásticos e por causa disto amealhavam fortunas. Cito estes casos para ficar nos bíblicos. Se fosse percorrer a história da igreja, poderia elencar uma infinidade de escândalos envolvendo clérigos, leigos e a instituição igreja. À luz destes fatos, os recentes escândalos do “apóstolo e a bispa” (sic) flagrados com entrada ilegal de dinheiro nos EUA, as muitas acusações feitas pela Receita e Polícia Federal à maneira como a IURD maneja seus fundos, as rádios “evangélicas piratas”, a compra a peso de ouro de tempo nas televisões, as acusações de desvio moral contra líderes das igrejas, nos colocam em xeque. Por outro lado, estes episódios, tantos os bíblicos como os não registrados nas Escrituras porque mais recentes, mostram que a Igreja, no que pese sua aludida origem divina, é formada de seres humanos e estes são tão falhos como se na igreja não estivessem. Mas o fato de cometerem o que cometem sendo membros das igrejas, não devem ser protegidos nem escondidos, mas devem receber exemplar punição, o que, não tem acontecido. Se a igreja não o faz, perde sua credibilidade e claudica na sua função profética. A Igreja é divino/humana, mas os escândalos são totalmente humanos, mesmo que alguns queiram atribuir tais obras a Satanás.