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terça-feira, 19 de julho de 2011

$OMO$

Há um crescimento do economicismo, noção de que o valor de qualquer coisa é dado em termos econômicos. Esta ideia domina a mentalidade com a qual as pessoas se aproximam de qualquer evento como transação e até mesmo umas das outras. Toda coisa deve ter uma etiqueta de preço. Está presente em praticamente todas as atividades. Ter um bebê, ouvir música, ir à igreja ou cuidar do meio ambiente são vistos em termos de “quanto custa”. Se uma atividade é caracterizada como “não-rentável”, o seu direito à existência é questionado. Se o que fazemos não traz retornos quantificáveis, nossa atividade é secundária e supérflua. Temos deixado esse valor penetrar em muitas áreas da sociedade. De alguma forma nós fomos levados a pensar nisso como algo normal. Medem-se negócios, atividades, assistência social, igrejas em termos de quanto custa e quanto retorno traz. Se o econômico é o aspecto mais importante de qualquer empreendimento ou ação, então, as pessoas mais importantes são os gestores. Mas como isto se aplica aos professores, aos psicólogos que trabalham com deficientes (o autista, por exemplo)? Qual o retorno econômico que se tem ao atender a uma pessoa necessitada por altruísmo e solidariedade? Estamos sendo treinados para ser gerentes que pensam sobre "produtividade", para atender aos orçamentos e metas, para fazer a escola "competitiva", para atrair os melhores alunos, para descobrir como reduzir custos, para gerenciar recursos exíguos. Isto é cada vez mais verdadeiro em toda as profissões, seja no trabalho de medicina, social ou na argumentação sobre investimentos (“isto daria para construir tantas casa populares”). A corrupção é julgada pela quantidade roubada e não tanto pelo fato de ter sido roubado. Ouvi estes dias que o que se desviou em Campinas dava para comprar duas companhias aéreas como a Webjet. Se quantificamos nossos atos, como podemos descobrir o que causa os crimes, ou educação deficiente ou os divórcios? Os crimes acontecem porque há gente pobre querendo um tênis mais sofisticado (quantia X quantia). A educação é deficiente porque os salários dos professores são baixos (quantia) e as escolas estão mal aparelhadas (quantia). Há mais divórcios hoje porque as mulheres tem mais chance de sobreviver do que tinham antigamente. Começamos a nos contentar com explicações superficiais e quantificadoras e passamos a acreditar que mais investimento melhora a educação, mais renda na sociedade diminui o crime, mais oportunidade financeira aumenta a taxa de divórcios. Para tudo precisamos de mais eficiência, melhor relação custo/benefício. Precisamos de mais competição para que os preços caiam. Temos que ser rentáveis e com este parâmetro temos de regular e controlar o comportamento humano. Quando questões importantes sobre as relações humanas são reduzidas a questões de gerenciamento do comportamento. As pessoas não estão mais sendo levadas a sério. O ser humano é mais que uma quantia, uma máquina de produzir ou consumir. Há mistérios humanos não quantificáveis. Como disseram os Beatles, o dinheiro não compra o amor. Uma bela cozinha planejada não faz mais feliz a ninguém. Uma bela casa pode dar conforto, mas não satisfaz o íntimo de uma pessoa carente de afeto. O problema mais profundo com o economicismo é que ele está fora de sintonia com as necessidades mais fundamentais dos seres humanos. O economicismo ensina que devemos amar coisas que as pessoas usam e não as pessoas que usam coisas. Estas considerações me fazem lembrar um amigo que esteve há alguns anos na sala da presidência de uma multinacional e viu um mapa mundi pedurado que não tinha a África. Ele perguntou por que o mapa não tinha o continente, ao que o presidente respondeu: “eles não contam para nós, porque é um continente que não consome o que produzimos; eles não existem para nós”. Marcos Inhauser