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terça-feira, 3 de maio de 2011

ATÔNITOS

Acho que este é o sentimento da grande maioria com os recentes eventos que atingiram o Japão. Não é possível ficar indiferente com os fatos e as notícias que do Oriente vem. Há, no entanto, algumas coisas que precisam ser explicitadas para que a tragédia não nos pareça maior que muitas outras, mesmo que, diante das tragédias, não se deve estabelecer um campeonato da desgraça. Nenhum outro evento catastrófico que a humanidade tenha sofrido até hoje teve tantas imagens gravadas, tantas câmeras em ação e tão imediata divulgação mundo afora. Há uma regra meio que inerente ao ser humano: quanto mais próximo do fato soubermos dele, mais impacto ele causará em nós. Explico-me: se vejo um acidente na estrada e eu vi o carro se acidentando, ele terá um impacto em mim muito maior do que se eu passar logo depois do acidente e vir o carro acidentado. Menos impacto causará se eu passar algumas horas mais tarde e vir o carro já retirado do leito carroçável. Se alguém me conta uma tragédia, ela produz um impacto em mim dependendo das cores que o narrador dela pintou o quadro. Mas se vejo imagens da tragédia, ela impactará muito mais fortemente. Outro fato é que o impacto em mim depende da quantidade de vítimas e a atrocidade da morte. Uma única morte, de forma natural, impactará menos que uma morte de forma violenta. Assim, muitas mortes de forma violenta trarão impacto muito mais profundo. Dito isto, quero tentar dimensionar algumas coisas. Primeiro, os eventos trágicos do Japão tem causado tal comoção porque transmitidos quase em tempo real e com profusão de detalhes e variedade de imagens como nunca se teve até o dia de hoje. Segundo, porque não houve uma única causa (terremoto), mas uma sucessão de causas (terremoto, seguido de tsunami, mais desastre nuclear). Isto faz lembrar a sabedoria popular que “desgraça pouca é bobagem”. No caso dos reatores nucleares, há que salientar-se a sucessão de problemas que redundaram nas explosões: o terremoto, o tsunami que avariou o sistema de refrigeração. Alternativas lançadas (resfriamento com água do mar), falta de combustível e eletricidade para que o resfriamento pudesse ser efetivo e duradouro, mostram algo que devemos ter sempre em menta: nenhum efeito é causado por uma única causa. Sempre há uma multiplicidade de causas a produzir o efeito. Uma tragédia nunca é provocada por uma única causa. As consequências não são únicas. Todo evento tem consequências múltiplas. São efeitos da tragédia o questionamento mundial sobre a viabilidade do uso nuclear para a geração de energia elétrica, o deslocamento de famílias das áreas contaminadas, a decretação de uma zona morta por décadas, o impacto sobre a economia, etc.

MONITORANDO A TRAGÉDIA

Não me refiro à tragédia na região serrana do Rio de Janeiro. Nem à tragédia nas cidades de Minas. Nem mesmo às tragédias mais próximas em Socorro, Atibia, Bragança, Sousas, Hortolândia, Sumaré e outras mais. Eu me refiro à tragédia da incompetência e incúria dos governos federal, estaduais e municipais em aprender com os fatos. Não é a primeira vez que catástrofes ocorrem, nem será a última. Outras virão, assim como outra existiram. Alguém me disse que são quase 40 delas nos últimos 14 anos. Nada, absolutamente nada foi feito para que haja mais prevenção e menos reparação quando elas ocorrem. No morro do Bumba, em Niterói, as pessoas começam a voltar e a construir barracos nos locais em que podem e parte disto se deve ao fato de ter gente que esperando até hoje a tal verba do auxílio aluguel que nunca chegou. Em Blumenau, baixadas as águas, as pessoas voltaram para suas antigas casas porque nenhuma providência foi tomada e o que ofereciam para aluguel era insuficiente para alugar um barraco nas mesmas áreas de risco. A Avenida Aricanduva em São Paulo é useira e vezeira nas manchetes de inundação e o que se tem feito? Agora vem os políticos apresentar um Sistema Nacional de Prevenção de Catástrofes. Vamos examinar alguns detalhes. Ele não é novo. Já havia sido apresentado em suas linhas gerais logo depois da catástrofe de Santa Catarina. E o que se fez de concreto? Alguém sabe? Os políticos poderão dizer que se comprou um supercomputador para monitorar com mais precisão as condições meteorológicas. E daí? Se os avisos da meteorologia avisando que cairiam chuvas em grande quantidade na região serrana não chegaram à população como agora se sabe, de que vale fazer a previsão se não produz a prevenção? Três prefeitos das cidades mais atingidas fazem um consórcio e o apresentam à mídia? Onde estava o governador que não participou? Onde o ministro? Onde os senadores do estado do Rio? Cadê o Bispo Crivela? Cadê o Lindemberg? Há que se montar um Sistema de Prevenção monitorando a implementação do que estes políticos dizem na hora da catástrofe. Prometeram o plano, há que se montar um sistema cidadão de acompanhamento, denúncia, cobrança e fiscalização da execução disto que é do interesse de todos. Há um sentimento de solidariedade para com os que estão sofrendo e muitos se mobilizam para prover água, comida, colchão, material de limpeza, etc. A mídia ajuda nisto. No entanto, não devemos achar que mandando uns litros de água, uns quilos de mantimento, vamos fazer a nossa parte. Fazemos na reparação temporária. O que realmente vai contar é se, como cidadãos, adotarmos uma atitude de prevenção, de monitoramento, cobrando das autoridades ações preventivas. Há que se entupir as caixas postais de deputados, senadores, ministros, prefeitos e vereadores, cobrando deles ação preventiva. É ligar para estes políticos e exigir atitude deles. É parar quando são vistos na rua ou em espaços públicos e cobrar. É fazer com que a aparição pública deles seja indigesta pelas cobranças cidadãs. É exigir que se pronunciem sobre as ações que fizeram e estão fazendo e monitorar a veracidade da informação. Proponho um Sistema Nacional de Prevenção da Incompetência Pública.