Estou no mundo da teologia há 47 anos. Estudei em alguns
seminários, dei aulas em outros, li um bocado, viajei e conheci as mais
diversas igrejas. Com tudo isto devo dizer com toda a sinceridade: sei quase
nada da teologia. Tem gente, especialmente um leitor que tenho, que nunca
estudou e que sabe mil vezes mais que eu e vive me espinafrando!
Confesso minha ignorância e minha incapacidade de ter
opiniões dogmáticas sobre assuntos pertinentes. Como diz um meme que recebi,
não estudei matérias filosóficas ou sociológicas: estudei as divinas. E quando
se estuda as divinas, se faz o trabalho de Sísifo, um personagem da mitologia
grega condenado a repetir ad eternum
a tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha. Toda vez que quase
alcançava o topo, ela rolava montanha abaixo invalidando o esforço despendido.
Neste caminhar, durante muito tempo, acreditei que a vida
cristã consistia no entendimento, compreensão e ensino das verdades teológicas,
tal como expressada pelos grandes teólogos da Igreja. Estudei Agostinho, Erasmo,
Aquino, Lutero, Calvino, Zwinglio, Bultmann, Barth y outros. Quanto mais eu
lia, mais me confundia. Um diz uma coisa, outro diz outra, eles se contradizem
e eu me perco. Não achei um Waze ou GPS para o mundo da teologia! Quando achava
que estava chegando ao topo com minha pedra, lá ia ela, morro abaixo.
De “dono-das-certezas-bíblicas” passei a ser o “eterno-interrogante”
ou a “eterna-interrogação”. O jargão “a-Bíblia-diz” foi substituído pelo “eu-hoje-acho-que-a-Bíblia-diz”.
A verdade universal e absoluta cedeu para a posição subjetiva. O “impositor de verdades”
sobre os outros, pela autoridade da verdade que cria e ensinava, foi ocupada
pelo “professor do talvez”.
Você pode estar pensando: ele se perdeu, apostatou, está em
surto, ou qualquer outro diagnóstico teológico ou psiquiátrico que me queira
rotular. Olhando para trás e avaliando minha caminhada, digo com a sinceridade
que a natureza humana me permite: nunca estive tão bem.
Aprendi com os anabatistas que mais vale uma vida obediente
ao que entende da Palavra de Deus, do que a mil afirmações ortodoxas. Mais vale
poucos em comunhão que muitos em reunião. Mais vale alguns reunidos em nome de
Jesus que uma multidão reunida para ver uma estrela gospel. Mais vale poucos
obedientes que muitos contentes. Mais vale a instrução que o louvorzão. Mais
vale o serviço ao próximo que a confissão de fé.
Aprendi que a igreja se faz com relacionamentos e não com
doutrinas inflexíveis e descontextualizadas. Aprendi que a igreja deixa de ser
igreja quando houver alguém que a frequenta e que eu não sei o nome. O púlpito
vira palco quando há holofotes sobre ele, quando é necessário um telão para o
pessoal de longe ver o “iluminado” quem está pregando. A igreja deixa de ser
igreja quando ela gasta mais com manutenção, eletricidade, equipamentos de som
e vídeo do que com as necessidades do próximo. Quando ela ensina o amor ao
pastor e à denominação, quando o ensino enfatiza o amor a Deus e esquece do
amor ao próximo, quando exige compromisso total com o custo do amor próprio e à
família. Pede e perde mais tempo nas atividades da igreja que na atenção à
família.
Igreja é relação, comunhão, serviço, amor a Deus e ao
próximo. O que foge disto, seja anátema!
Marcos Inhauser