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quarta-feira, 22 de maio de 2019

RELACIONAL OU CONCEITUAL?


Estou no mundo da teologia há 47 anos. Estudei em alguns seminários, dei aulas em outros, li um bocado, viajei e conheci as mais diversas igrejas. Com tudo isto devo dizer com toda a sinceridade: sei quase nada da teologia. Tem gente, especialmente um leitor que tenho, que nunca estudou e que sabe mil vezes mais que eu e vive me espinafrando!
Confesso minha ignorância e minha incapacidade de ter opiniões dogmáticas sobre assuntos pertinentes. Como diz um meme que recebi, não estudei matérias filosóficas ou sociológicas: estudei as divinas. E quando se estuda as divinas, se faz o trabalho de Sísifo, um personagem da mitologia grega condenado a repetir ad eternum a tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha. Toda vez que quase alcançava o topo, ela rolava montanha abaixo invalidando o esforço despendido.
Neste caminhar, durante muito tempo, acreditei que a vida cristã consistia no entendimento, compreensão e ensino das verdades teológicas, tal como expressada pelos grandes teólogos da Igreja. Estudei Agostinho, Erasmo, Aquino, Lutero, Calvino, Zwinglio, Bultmann, Barth y outros. Quanto mais eu lia, mais me confundia. Um diz uma coisa, outro diz outra, eles se contradizem e eu me perco. Não achei um Waze ou GPS para o mundo da teologia! Quando achava que estava chegando ao topo com minha pedra, lá ia ela, morro abaixo.
De “dono-das-certezas-bíblicas” passei a ser o “eterno-interrogante” ou a “eterna-interrogação”. O jargão “a-Bíblia-diz” foi substituído pelo “eu-hoje-acho-que-a-Bíblia-diz”. A verdade universal e absoluta cedeu para a posição subjetiva. O “impositor de verdades” sobre os outros, pela autoridade da verdade que cria e ensinava, foi ocupada pelo “professor do talvez”.
Você pode estar pensando: ele se perdeu, apostatou, está em surto, ou qualquer outro diagnóstico teológico ou psiquiátrico que me queira rotular. Olhando para trás e avaliando minha caminhada, digo com a sinceridade que a natureza humana me permite: nunca estive tão bem.
Aprendi com os anabatistas que mais vale uma vida obediente ao que entende da Palavra de Deus, do que a mil afirmações ortodoxas. Mais vale poucos em comunhão que muitos em reunião. Mais vale alguns reunidos em nome de Jesus que uma multidão reunida para ver uma estrela gospel. Mais vale poucos obedientes que muitos contentes. Mais vale a instrução que o louvorzão. Mais vale o serviço ao próximo que a confissão de fé.
Aprendi que a igreja se faz com relacionamentos e não com doutrinas inflexíveis e descontextualizadas. Aprendi que a igreja deixa de ser igreja quando houver alguém que a frequenta e que eu não sei o nome. O púlpito vira palco quando há holofotes sobre ele, quando é necessário um telão para o pessoal de longe ver o “iluminado” quem está pregando. A igreja deixa de ser igreja quando ela gasta mais com manutenção, eletricidade, equipamentos de som e vídeo do que com as necessidades do próximo. Quando ela ensina o amor ao pastor e à denominação, quando o ensino enfatiza o amor a Deus e esquece do amor ao próximo, quando exige compromisso total com o custo do amor próprio e à família. Pede e perde mais tempo nas atividades da igreja que na atenção à família.
Igreja é relação, comunhão, serviço, amor a Deus e ao próximo. O que foge disto, seja anátema!
Marcos Inhauser