Mais uma rodada de eleições para cargos próximos a cada um de nós. Até onde sei e posso avaliar, as propagandas, horários gratuitos, fake news e debates foram bem mais comportados, sem algumas das baixarias presentes nos anteriores. Isto, talvez, pode ser atribuído á curta temporada das propagandas e aos fatores extraordinários.
Dia de votação sem novidades (até a boca de urna se
comportou), transmissão dos dados com alguma dificuldade e apuração/divulgação
com problemas técnicos, mas que, ainda assim, coloca o sistema eleitoral
brasileiro como modelo para outras nações. Contabilizar 140 milhões de votos e
ter o resultado no mesmo dia é coisa para deixar muitas nações morrendo de
inveja.
Até que se prove o contrário com fatos concretos (e não
especulação e denúncias baseadas no achismo), o sistema é imbatível no quesito
segurança e confiabilidade. Foi concebido de tal maneira que a fraude nas urnas
teria que ser um processo de alterar o programa de milhares de urnas eletrônicas,
coisa inviável. Feita a apuração na urna, fica registrado e, mesmo que algo se
consiga fraudar nos processos posteriores, há o resultado impresso de cada urna
que servirá como elemento robusto em uma auditoria.
Algumas lições podem ser tiradas deste processo. Revelou que
a última eleição (presidencial) foi um ponto fora da curva, que não se repetiu
agora. O ultraconservadorismo não conseguiu se impor. Isto mostra que a eleição
de 2018 foi mais um voto de raiva contra o petismo que adoção sincera e
consciente de um ideário conservador.
Descobre-se também que o voto antipetista ainda teve forte
apelo, pois, pela segunda eleição seguida, o PT é desidratado. Por outro lado,
a centro-direita e partidos de cento, centro-esquerda e esquerda tiveram melhores
resultados. O cometa partidário PSOL, aquele que apareceu, brilhou, sumiu nesta
eleição. Percebe-se a ascensão do DEM e PPS (este com muita gente ficha-suja) e
uma expressiva votação do bloco do centrão.
O que este resultado implica é que o apoio do Centrão será
mais caro daqui para frente. Alie-se a isto a desidratação do peso e liderança
do presidente, cujo cacife político voltou à antiga dimensão de parlamentar do
baixo-clero, e se tem as condições perfeitas para uma tormenta política: cargos
terão que ser distribuídos, a ala ideológica perdendo relevância, a ala
fisiológica ganhando musculatura, o presidente da Câmara e Senado com muitos
mais votos e peso político em seus mandatos.
Diante deste quadro, pode ser que tenhamos um
presidencialismo a la monarquia britânica: um rei figurativo e primeiro
ministro (Maia ou Alcolumbre) atuante e propositivo. Vencida a etapa da
reeleição que pleiteiam, mandarão no Congresso e farão o que quiserem.
O sonho da reeleição acalentado pelo atual ocupante do
Palácio está cada vez mais distante, seja pelo sinal dados pelas urnas, seja
pela sua ligação com o Trump, seja pelas palavras desastradas e discursos de
arroubo, seja pela maneira errática e nada profissional que lidou com a
pandemia.
Muito já se disse sobre as diferenças da eleição municipal e
da presidencial. Mas também se sabe que a eleição de governadores e presidente
está alicerçada nas bases municipais, onde se consegue a capilaridade. Se isto
é verdade, a reeleição terá dificuldades em conseguir a base eleitoral. Diante
deste quadro de derrota iminente, o melhor é questionar a lisura do processo,
semear a dúvida quanto ao voto eletrônico, suspeitar dos resultados. Isto dará
munição para, apurados os votos em 2020, defender-se dos minguados votos com a
existência da fraude eleitoral. O mentor já fez e está fazendo isto.
Marcos Inhauser