Achei que era implicância minha em função da idade. Sabe
como é: a gente vai envelhecendo e a flexibilidade vai diminuindo.
Ocorre que, conversando com algumas pessoas mais jovens que
eu, percebi que compartilhamos algumas das mesmas percepções, pelo que decidi
colocar meu ranking das pessoas chatas e esperar a reação dos leitores.
“Eu-por-exemplo”: é a pessoa que se sente padrão para o
mundo. Ela ouve algo e em seguida tem que dizer o que ela pensa ou como agiria
em determinada situação. Quase sempre começa com a frase que a caracteriza.
“Isso-não-é-nada”: a pessoa ouve de uma dor ou algo estranho
ou engraçado que aconteceu e em seguida vem com sua história, sempre precedida
do “isto-não-é-nada”, porque ela acha que sua história ou foi mais engraçada,
inusitada ou sua dor é mais forte que a do outro.
“Sabe o que penso?”: tem a necessidade compulsiva de fazer
conhecida a sua opinião sobre tudo e todos. Ninguém quer saber o que eu ela
pensa, mas, mesmo assim, discorre, quase sempre, alongada e cansativamente, sem
profundidade de conhecedora do assunto.
“O-que-você-deve-fazer” ou “eu-no-seu-lugar”: elas não
conseguem ouvir que alguém tem um problema, tem uma dor, está em alguma
dificuldade que, sem que se peça, se prestam a enumerar soluções não
solicitadas.
“Sempre-eu” ou “tudo-eu”: pessoas que tem o DNA da vítima.
Fazem tormenta em copo d’água, acham que para elas tudo é difícil, todo mundo
conspira contra ela, tudo de ruim acontece com ela, suas dores são maiores do
que a dos outros, ninguém entende o seu sofrimento, etc. São poços de lamúria,
desdita e depressão. Depressivas, promovem a depressão em quem com elas
convive.
Ao lado destas que são identificáveis pelas frases que usam,
há as pessoas chatas que se identificam pelo comportamento. A primeira delas é
que começa a falar e não para mais. Falam pelos cotovelos. Seguida a elas estão
as que interrompem quando você está falando ou antecipam o que você iria dizer
e se tornam senhoras da conversação.
Há as pessoas que não podem ouvir uma crítica ou algo com o
qual não concordem. Elas se sentem compulsivamente orientadas a dar uma
resposta ou a passar um sermão ao que teve a ousadia de criticá-la. Dão a
impressão de serem bem resolvidas, mas balançam ao menor vento.
Outra classe de chatos é formada pelos hipocondríacos: só
falam de doença, de remédios, de descoberta feita pelo Dr. Fulano da
Universidade Sei Lá. Se você diz que tem um dor, logo vão sugerir para fazer um
exame para saber se não está com câncer.
Há, dentro do universo dos hipocondríacos as “formadas pela
leitura de bulas”. Sabem de todos os efeitos colaterais dos remédios, o que se
pode comer e o que não se deve beber quando da ministração do remédio. São
rápido para sugerir novas medicações que são as mais recentes descobertas.
Há os chatos nutricionistas. Vivem ensinando o que é bom
para saúde, o que se deve beber ou comer (quase sempre em jejum e com sabor
horrível). O pior deles são os veganos. Não comem quase nada e ainda querem
impor a dieta deles a todo mundo. Quando você diz que come carne, olham para
você com cara de nojo.
O campeão é o politicamente correto. Todo o cuidado é pouco
ao se falar ou comentar algo. Para tudo elas têm uma “visão diferente”, tudo ela
vê pelo ângulo do direito das minorias, tudo merece “ser problematizado”. A
conversa com elas vira um exercício de pisar em ovos, onde, quase sempre, por
mais cuidado que eu se tome, acaba quebrando algum.
Perdão por ter si do chato, mas falei o que estava
engasgado!
Marcos Inhauser