Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador novo governo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador novo governo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 18 de maio de 2016

TEMER(IDADES)

O sentimento de indignação com a corrupção está à flor da pele dos brasileiros. Não há dia que algo novo não venha à tona, envolvendo os mais variados setores da economia, os mais variados personagens, tanto na esfera pública como privada, tanto tubarões como lambaris. A coisa transpareceu na Câmara, quando da votação da admissibilidade de julgamento da presidente. Muitos (se não a maioria dos deputados), ao explicitar seu voto no festival de babaquices que se viu, declarou o desejo de colocar um fim à corrupção, ainda que o assunto não fosse o que estava em pauta e nem era o que se votava.
Com isto, vejo que a nomeação do ministério feita pelo presidente-interino Michel Temer foi uma Temer(idade). Indicar sete ministros que estão sendo acusados pela Lava Jato é uma temeridade. Sei que ninguém é culpado a priori, que só se torna culpado depois de sentença transitada em julgado, que a pessoa é inocente até que se prove o contrário. Ocorre que, salvo raríssimas exceções, os que tiveram seus nomes citados pelos delatores premiados foram posteriormente investigados e se comprovou o que diziam. Aí está o caso do Eduardo Cunha, do Delcídio Amaral, do Argolo, do Pedro Henry e outros mais.
Ter o ministro Eliseu Padilha é uma temeridade. Ele foi acusado de ser lobista, de ter atuado em favor de empresas e de ter pago dois milhões de forma ilícita. A acusação foi feita em 2003, a ação foi impetrada em 2013 (!!!) e até agora nada de julgamento.
O Geddel Vieira Lima é acusado de ter desviado mais de um milhão da corretora de valores do Baneb (1999), o que lhe custou a demissão do cargo que ocupava. Ainda pesam sobre ele o fato de ter mensagens interceptadas nas quais advogava a favor da OAS, o que lhe garantiu recursos para sua candidatura ao Senado, graças à “generosidade” do Léo Pinheiro.
O ministro Moreira Franco teve um apartamento leiloado pela Justiça (1997) para que se devolvesse dinheiro utilizado indevidamente para enaltecer as suas obras à frente do governo do estado do Rio.
O ministro Henrique Eduardo Alves, quando da sua eleição para a presidência da Câmara em 2013 teve uma série de acusações feitas contra ele: de ter dinheiro não declarado no exterior, contratar empresa laranja, beneficiar assessor, entre outras.
O ministro Blairo Maggi ganhou o prêmio Motosserra de Ouro, já foi considerado como um dos mais ferrenhos apoiadores do desmatamento, é conhecido como rei da soja (título que perdeu para Eraí Maggi). O estado de Mato Grosso forma o "Arco do Desmatamento" (a parte da Amazônia mais desflorestada) e o desmatamento do estado dobrou no seu governo. Uma temeridade colocá-lo no Ministério da Agricultura.
Temeridade foi a entrevista do ministro da Justiça, falando o que não era hora de falar e dando cordas para uma série de interpretações, inclusive a de que o novo governo interferiria na Lava Jato. Na mesma linha, também a entrevista do ministro da Saúde (que recebeu financiamento de campanha de planos de saúde), quem disse que o SUS precisa ser readequado, o que provocou celeuma e ele teve que recuar no mesmo dia.
Temeridade é chamar sindicalistas para que proponham mudanças na Previdência. Pura perda de tempo, porque nunca apresentaram nenhuma proposta concreta e não o farão agora.
Temeridade é ter um ministério com doze ministros que receberam, contribuições de empresas que estão na Lava Jato.
Temeridade é ter um ministério sem mulheres e negros.
Temeridade é querer mudar o Brasil nos seis meses que, porventura, estará em um governo interino, ou até 2018, caso venha a assumir a presidência.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 20 de abril de 2016

TEMER: SIM, HÁ O QUE TEMER!



Passado o episódio da votação na Câmara dos Deputados e a perspectiva de que o Senado venha a aceitar a admissibilidade do julgamento, teremos, no máximo, 180 dias de um governo tampão, com o anódino Michel Temer.
A ascensão dele à presidência traz algumas certezas: ele nunca dirá nada revolucionário, impactante, que traga novidade ou algo para se pensar. Ele tem a capacidade de tempero de um chuchu. Nunca ouviremos dele o Discurso da Mandioca, nem afirmações da existência da “mulher sapiens”, nem se equivocará dizendo que há a “mosquita do zica”. Antes, pelo contrário, seus discursos serão chatos, cansativos e um convite para mudar o canal depois de dois minutos. Usar metáforas? Nunca!
Outra certeza é que ele terá mais ouvidos que a antecessora. A sua trajetória política, tal qual a que ele sucederá, foi construída não com votos, mas com relacionamentos. Dizem que aceitou ser vice na chapa do Lula porque sabia que não conseguiria se eleger deputado. A sua força está na presidência do partido mais dividido do espectro político-partidário. Sabe costurar divergências.
O que ainda não consegui entender ou imaginar é como o partido mais governista do período pós ditadura (sempre esteve na crista da onda em todos os governos), e que tem o condão de participar e fazer oposição simultânea ao governo de plantão, conseguirá ser uno para governar o país. Como administrar o lado fisiológico do partido (ávido por boquinhas e quejandas) em um governo que será super vigiado pela população e pelo PT, PCdoB e PSOL?
Mais que isto, estranha-me o fato de que o PMDB quer lavar as mãos de um governo que, segundo a acusação, cometeu crime de responsabilidade, quando teve, ao longo de todo o tempo, ministros e o vice-presidente andando na carruagem presidencial. Serão tão santos assim? Como ser santo em companhia de campeões de denúncia no STF?
Há que se considerar que o Palácio do Jaburu, desde que se tornou provável a admissibilidade no caso da Dilma, a romaria de políticos se instalou, todos ávidos por serem lembrados na hora das nomeações. Até um grupo de religiosos foi lá para orar pelo Temer. Se conheço algo destes “religiosos”, foram se tornar visíveis/candidatáveis para uma possível nomeação.
O governo PT, com seu presidencialismo de coligação se mostrou inviável. O que vejo até agora é a continuidade do modelo. No entanto, creio ser de bom alvitre esperar as águas correrem debaixo da ponte e analisar as primeiras nomeações para se ter uma ideia por onde o rio correrá. Com certeza Alfredo Nascimento, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá e Henrique Eduardo Alves, Moreira Franco, todas figurinhas carimbadas, terão seus espaços amplos.
Não nutro esperanças. Não creio em mudanças quando se usam os mesmos modelos e métodos. Tenho para comigo que o câncer da política brasileira é o PMDB, pela sua postura ambivalente nos vários governos do qual participou, pela forma como boicotou a candidatura de Quércia e Ulysses Guimarães, pela forma como negociou o seu apoio nos momentos cruciais de governos e da nação. Quero ver o Temer ter o apoio massivo do PMDB! Se o fizer, ganha o prêmio Nobel da Paz! Ele terá que administrar a crise política, econômica, financeira, os caos na saúde e educação, e ainda agradar os parceiros de partido e os aliados de primeira e última horas.
Tudo isto em um clima de temporariedade, acirramento dos ânimos políticos, Lava Jato, julgamento no TSE dos gastos da sua campanha, com o compromisso de não ser candidato em 2018 e outras coisas que penso, mas a prudência me faz calar.
Temo o Temer!
Marcos Inhauser