Arrumei uma
baita confusão quando, em um treinamento corporativo, disse que a palavra
“médio” é uma contração de “medíocre”. Falei a coisa sem ter refletido com
profundidade sobre o que eu havia dito.
Assustado
com a reação, tive que pesquisar e, vi que não estava totalmente fora da razão.
A busca pelo significado de medíocre mostra que ela é emprega para se referir a
algo que está na média, se comparado a dois outros elementos. É algo que não
bom ou ruim, horrível ou maravilhoso. É o que não se destaca, que passa
desapercebido, que não chama a atenção.
Uma pessoa
medíocre é aquela que não tem opinião própria, que repete o que ouviu, que fala
obviedades, que é papagaio repetindo frases feitas. São as que adoram frases do
senso comum e que as proferem como se estivessem dizendo maravilhas
filosóficas.
Mas há
também um outro sentido que se dá à palavra medíocre: aquele que está abaixo da
média, que é sofrível, que é ruim. Um ator medíocre é o que estraga a cena onde
atua. O médio não estraga nem a enriquece. O médio não cheira e não fede. O
medíocre fede.
No
treinamento em que tal fato ocorreu, ao passar o tempo com os que participavam,
percebi que os que se chocaram com a afirmação de que médio é uma forma
abreviada de dizer medíocre, eram os medíocres da turma. Eram tão abaixo da
média no conhecimento do vernáculo, que não percebiam que as palavras podem ter
nuances de significado, dependendo do contexto em que são empregadas.
Como
colunista há quase 20 anos, tive experiências várias com meus leitores. Duas
delas são paradigmáticas para exemplificar o que acabo de dizer. Quando da
intervenção militar dos Estados Unidos no Afeganistão, escrevi várias colunas
criticando a ação do império em terras de pobreza extrema, para acabar com um
grupelho. Ao criticar os EUA, houve quem entendesse que eu apoiava o Talibã e
me mandava e-mails me criticando e me “espinafrando”. Um dos argumentos que a
pessoa bradava era que eu, como cristão, não poderia, nunca, apoiar um grupo
muçulmano e terrorista. Tentei explicar que o criticar a um não significava
apoiar o outro. Mas os neurônios do meu crítico não permitiam ver isto.
Mediocridade pura!
Outro
exemplo foi uma coluna que escrevi por ocasião do Natal, sob o título “Ele
errou no dia e hora”. Nela eu fazia uma crítica ao modelo midiático das igrejas
neopentecostais e imaginava o que seria uma produção midiática para o
nascimento de Jesus, tipo Big Brother. Também afirmava que se poderia arrecadar
milhões com os direitos autorais sobre as transmissões e fotos do evento. Dizia
que, se o nascimento de Jesus fosse hoje, o impacto midiático seria estrondoso.
Não deu
outra. Muitos me escreveram me criticando. Alguns publicamente outros, mais
comedidos e éticos, me escreveram em privado. A um deles, pela forma decente
com que tratou o assunto e me criticou, escrevi mostrando que havia usado uma
figura de linguagem que é a ironia, que ela existe nos textos bíblicos e dei
alguns exemplos de ironia em textos da Bíblia. O interlocutor me disse que
nunca havia ouvido falar disto, mas que iria estudar o assunto. Nunca mais
voltou a me escrever.
Nestes dois
exemplos eu vejo o medíocre (o primeiro, por estar abaixo da média), o medíocre
mediano (perdão pela redundância – o segundo no primeiro momento) e o mediano ascendente
(que está disposto a aprender e sair da mediocridade).
Marcos
Inhauser