Não sou formado em filosofia. Mas os estudos me obrigaram,
por interesse ou requisito acadêmico, a ler vários. Li um monte deles, desde os
clássicos até Foucault. Entendi alguns, outros me perdi na leitura e não achei
o sentido, nem que relesse duas ou três vezes. Os dialéticos, para mim, falam
grego! E não achei tradução!
Tentei ler Marx. Desisti na segunda página. Sabia que ia
perder tempo. Depois tive um professor de História da Educação que disse: “se
alguém te disser que leu O Capital de Marx, duvide; se disser que entendeu,
chame-o de mentiroso; se insistir, interne porque está louco”. E ele era
marxista!
Há uma coisa que nunca vi nos filósofos assim reconhecidos:
nunca li uma palavra de baixo calão sendo empregado por um deles. Palavrão?
Jamais! Se há uma coisa que os caracteriza é a linguagem escorreita e o
vocabulário que foge ao óbvio e ao popular. Antes, pelo contrário, são
herméticos, com construções de frases bastante complexas.
A fala chula, vulgar, o emprego de palavrões é típico de
gente que não tem vocabulário que consiga traduzir o que quer dizer, que não
consegue expressar os sentimentos. Mais: é característico de quem sabe ofender
e gosta de fazê-lo. Acha que o palavrão, a ofensa, o discurso vulgar é a forma
mais certeira de dizer o que quer e que o povão vai entender e gostar. Ele fala
para a “galera” e mede sua proficiência em filosofia pelos likes e seguidores
que tem. Neste mundo líquido contemporâneo, um falastrão, com linguagem vulgar
e permeado de palavrões pode se considerar filósofo, bispo, apóstolo, guru ou o
que queira.
Como falta à grande maioria dos brasileiros escola, leitura,
noção crítica, autonomia reflexiva, qualquer babaca que fale umas tantas
quantas coisas, mesmo que recheadas de obviedades e platitudes, desde que venha
com palavrões, ele “é o cara”. Este “cara” pode defenestrar um dos maiores
educadores que a humanidade já produziu. Como santo na sua terra não faz
milagre, Paulo Freire é santo lá fora e demônio para os seguidores do guru. Um
sujeito que fez um curso de conserto de geladeira e paraquedismo, que foi
indisciplinado no Exército, o que tem a dizer e ensinar? Nada! Prefere
alimentar as controvérsias no Instagram e Twitter. Mas trazer um plano nacional
de educação, de saúde, de reforma fiscal, esclarecer os pontos da reforma da
previdência, isto não tem cacife para fazê-lo.
Um jovem de dezoito anos, estudioso na medida do necessário,
conseguiu um encontro com uma jovem, esta sim estudiosa. Saíram, conversaram e
no terceiro encontro ela lhe perguntou: este é o vocabulário que você tem? Por
que você repete sempre as mesmas frases e palavras? Por que você insiste em
usar vulgaridades? Se quiser me namorar, comece a ler mais livros e melhore seu
vocabulário! Não tenho tempo para ficar ouvindo as mesmas coisas sempre! Traga
conhecimento e não besteiras!
O conselho da menina serve para muitos. Mas como estudar se
filosofia e sociologia são lixo? Para que estudar se o que importa e saber ler,
escrever, fazer as quatro operações e ter uma profissão? Siga o exemplo do
ministro que, em rede social escreveu “ínsita” quando deveria escrever “incita”,
sem contar o erro de concordância que cravou na mesma mensagem. Ele não estudou
direito, tanto que, trazida à luz seu boletim escolar, teve que dar mil
explicações para as faltas, notas baixas e vida acadêmica abaixo da média. E
abaixo da média continua sendo. O erro de grafia e de concordância são tão
agressivos quanto as vulgaridades e palavrões do outro.
Marcos Inhauser