Não se sabe ao certo quando a ideia do inferno foi associada
ao fogo. Quando visitei Jerusalém juntamente com outros 16 diretores de
Seminários Menonitas e assessorados por uma arqueóloga, ouvi uma explicação
bastante interessante. Há dois vales ao lado de cidade: Hinon, um vale onde se
depositava o lixo e Cedron, um vale limpo, que não recebia lixo para que não
contaminasse a fonte de água da cidade (Fonte de Gion).
O vale de Hinon, por receber lixo, este se decompunha e
produzia enxofre e por causa do metano, queimava diuturnamente. Criou-se a
ideia de que para o lixo e para ao fogo eterno seriam mandadas as pessoas indesejáveis
socialmente. Na versão dos Setenta (Septuaginta) o Vale de Hino foi traduzido
como Geena.
Ocorre que, me parece, os infernos não são exclusivamente de
fogo. A vida urbana tem criado outros infernos tão suplicantes quanto ficar
queimando eternamente. Vi uma reportagem sobre um determinado bairro em São
Paulo, mais para favela que para bairro, onde o dono de um bar promove bailes
funks que começam na sexta à noite e terminam no domingo à tarde. Música em
volume insuportável para quem do baile não participa, barulho da multidão
gritando e cantando, bebidas, drogas e total falta de respeito aos moradores.
Um inferno todo final de semana!
Uma amiga me contou na semana passada que teve que se mudar
do apartamento onde morava por causa do barulho das motos que a infernizava. Ela
morava em um apartamento perto do Mario Gatti e afirma que as motos dos
entregadores parece que faziam questão de fazer barulho ao deixar os prédios
onde vinham entregar comida.
Se me lembro bem, há uma lei que pede que não se buzine nas
redondezas dos hospitais. O escapamento e a aceleração desnecessária podem?
Onde a fiscalização? Se houvesse da parte da EMDEC a mesma competência para
fiscalizar que tem para aplicar multas, a coisa seria diferente!
As motos já são, de fábrica, barulhentas. Já não bastasse o
barulho “normal”, há quem abra o escapamento para que o som seja mais alto,
estridente, irritante. É uma forma de chamar a atenção e dizer: “Eu tenho uma
moto! Olhem para mim!”
Lembrei-me de um vizinho que tive em 1978, que tinha uma
Vemaguete, motor dois tempos, e que, todo dia às 6:00 da manhã, ligava o motor
e ficava acelerando. Um dia perguntei a ele o porquê disto e ele me disse que
era para “não arriar a bateria”. Mas ele conseguia irritar toda a vizinhança.
Era a forma que ele tinha de anunciar a todos que tinha um carro.
No domingo, no início da noite, estava sentado em frente à
minha casa com minha esposa e uma pessoa que nos visitava. Nisto apareceu um
carro, com três jovens dentro e, para estacionar na frente da casa do outro
lado da rua, acelerou tantas vezes que tivemos que interromper a conversa.
Escapamento aberto, fazia questão de mostrar que tinha um “possante”! Deu pena
do energúmeno!
Algumas perguntas: existe a lei do silêncio em Campinas? Se
tem, está em vigência? Quem já foi multado por ela? Você que é vizinho de
barzinho e já denunciou, resolveu o problema?
Tenho certeza de que serei voz que clama no deserto! E o
inferno vai continuar!
Marcos Inhauser