Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

Mostrando postagens com marcador hermenêutica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador hermenêutica. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

MANIQUEÍSMO INTERPRETATIVO


Maniqueu, nasceu no terceiro século antes de Cristo no território do Império Sassânida (hoje Iraque) e é conhecido como fundador do maniqueísmo, filosofia religiosa dualística que divide o mundo entre Bom (Deus) e Mau (Diabo). Para ele, a matéria é má, e o espírito é bom. Passou, com o tempo, a se referir a toda postura fundada em dois princípios opostos: Bem e Mal. Para o maniqueísmo não existe meio termo: ou é do bem ou é do mal.
Nestes tempos estranhos de redes sociais e de gente que se “educou” respondendo questões de múltipla escolha, onde deveria escolher a alternativa certa entre duas ou mais, o maniqueísmo se alastrou qual praga da tiririca. Por ser uma geração que não foi treinada na dúvida, nem no questionamento, em que umas poucas premissas foram apresentadas como verdade absolutas, há o condão de achar que o que ele “sabe” é definitivo, absoluto e inquestionável.
Caracterizam-se por uma profundidade de conhecimento que se assemelha a um pires, leram os livros obrigatórios do ensino básico e o mais filosófico deles foi Capitu. Das notícias só leem os títulos, não leem artigos opinativos e adoram o Datena em suas platitudes. Por não serem treinados na leitura, mal entendem o que leem e acham que o autor disse o que não disse, afirmam o contrário do que está escrito e se julgam o Bem lutando contra o Mal. Desnecessário dizer que sempre representam o Bem! Merecem o neologismo de “leitor(anta)”.
Para quem, como eu, que escrevo há quase vinte anos esta coluna semanal, a cada pouco recebo manifestações via e-mail ou nas redes sociais deste tipo de leitor que diz o que eu não disse, que me julga pelas vírgulas, que vê em mim um cruzado contra a religião cristã, especialmente a evangélica. Certa feita recebi de um pastor uma crítica feroz e me aconselhando a usar este espaço para “pregar o evangelho” e não para apontar as mazelas de algumas igrejas. Respondi a ele perguntando se ele me oferecia o espaço no boletim da sua igreja para eu escrever. Estou esperando a resposta até hoje.
Uma das coisas mais comuns é o maniqueísmo diagnóstico: se ataco algum aspecto do capitalismo, sou comunista. Se ataco algo do marxismo, sou capitalista, se critico uma posição dos evangélicos sou católico etc. Quando da invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, ao criticar as ações e a mortandade provocada, recebi manifestações dizendo que eu era a favor dos talibãs!
Mais recentemente, em algumas vezes em que critiquei os destemperos verbais do atual presidente, fui acusado de ser comunista, petista, esquerdista. Quando critiquei o PT no governo, fui acusado de ser conservador, retrógrado, capitalista. Quando fiz algum reparo à Lava Jato, fui condenado por ser a favor da corrupção! Um deles me escreveu dizendo que eu sou “inguinorante” e que minha “inguinorança” me descredenciava a ser colunista.
Estamos na época em que qualquer alfabetizado se sente no dever e poder de dizer ao mundo o que pensa, mesmo que sua postagem seja a revelação do quão imbecil é. Neste contexto se inserem os haters, gente especializada em difamar, denegrir e fazer bullying virtual. Machucam pessoas pela aparência que têm, por serem gordas ou magras, cabelo curto ou comprido, e aí por diante. Não é para menos que vários destes famosos fecharam suas contas nas redes sociais.
Marcos Inhauser