Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da
igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros de adivinhações e
chutes prognósticos, nem aos “porta-vozes de Deus” que manipulam a vida de
incautos, mas à dimensão veterotestamentária: pessoas vocacionadas para
diagnosticar o presente, denunciar os pecados individuais, sejam eles cometidos
por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos
púlpitos e dos animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai,
dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de ter conversado com o presidente de uma igreja
protestante de Cuba em 1989, que me falava das maravilhas do ser igreja naquela
nação, da liberdade que tinham em pregar e evangelizar dentro das quatro
paredes, da dimensão querigmática, diacônica, didática que estavam exercendo.
Quando lhe perguntei sobre a dimensão profética, senti que ele se encolheu mais
que maracujá maduro. E respondeu que tudo tem seu tempo.
O mesmo aconteceu com um renomado pastor guatemalteco,
diretor de seminário e aclamado como teólogo, que em uma reunião de seminários
em Campinas, dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e
evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas eu lhe perguntei como
explicava o fato de ser (falo de 1990) o país mais violento politicamente da
América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este
homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu
que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar
nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja
e constatei isto.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no
sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino,
metodista, um p(r)o(f)eta, mistura de profeta e poeta. Conheci o Dom Pedro
Casaldáliga, outro p(r)o(f)eta. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o
respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta? Quem está levantando
de forma profética e poética sua voz para denunciar os escândalos, os
desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário, o dono do
Maranhão, os boquirrotos?
Que igreja é esta, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação
de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “líderes”, pela falta de ética em
seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes gostam
mais de holofotes, de palcos, multidões, carrões, televisão, rádio que ter cara e
coragem para denunciar os políticos? Quem é profeta nesta igreja brasileira?
Quem está dando sua cara? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías,
Miquéias?
Não temos profetas porque a igreja evangélica brasileira não
prega sobre o pobre e o empobrecido, sofre as viúvas e órfãos, sobre a
injustiça no campo e na cidade. A igreja brasileira produziu gramáticos como
bem cita Eber Ferreira da Silva em sua tese (Eduardo Carlos Pereira, Othoniel
Motta, Erasmo Braga, Francisco Augusto Pereira Junior, entre outros). Mas
profetas? ... Nunca!
Esta é uma igreja manca porque sua teologia está centrada em
uma só perna. Enferma, deficiente, anormal, porque prega um evangelho pela
metade, só prega o que interessa ao grande público e não confronta os
empoderados. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais
leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros
que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que
doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que
mensageiros.
Marcos Inhauser