É fácil encontrar
citações bíblicas alertando para os falsos profetas, pois eles são praga eterna
e comum. Se o sábio falso é raridade, o profeta falso é achado em quantidade.
Para reconhecê-los talvez o melhor caminho é olhar para as características do verdadeiro
e perceber os que dele se desviam.
O verdadeiro profeta
é apartidário. Ele não apoia este ou aquele candidato ou partido. Ele deve ser
independente para poder dizer o que pensa deste ou daquele, mesmo os mais
poderosos. Ele, no entanto, não é imparcial, visto que tem um compromisso
radical com os pobres, as viúvas, explorados, estrangeiros e órfãos. Sempre
está do lado deles. Como disse Max Weber, no antigo Israel havia a realeza
mancomunada com os sacerdotes, o povo explorado por eles e o profeta que
denunciava as injustiças da realeza/sacerdócio na exploração do povo.
O profeta, na pura
acepção da palavra é “o mensageiro da parte de ... ”. Ele traz a mensagem da
parte de Deus, palavra de denúncia e esperança. Não é o vidente que prevê o
futuro, ainda que diga o que acontecerá caso insistam nas práticas iníquas. Seu
exercício de futurologia é o da lógica que levas às últimas consequências os
atos desastrosos praticados. Não é para menos que muitos o veja como vidente,
como anunciador do futuro em termos visionários. Para tanto o Deuteronômio
orienta: “Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor? Se o que o profeta
proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem
do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele” (Dt 18:20-22)“. Outro alerta vem
de um profeta: “Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que
seguem o seu próprio espírito sem nada ter visto! ... Tiveram visões falsas e adivinhação mentirosa os
que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor os não enviou; e esperam o
cumprimento da palavra.” (Ez 13:3-7). Jesus também alertou: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os
conhecereis” ( Mt 7:15).
Pastores, bispos, apóstolos
ou missionários que se apresentam como abençoadores de governo e deles
necessitam para manter suas estruturas midiáticas ou religiosas, reproduzem o que
havia no antigo Israel: a realeza casada como o sacerdócio para explorar o
povo. É verdade que devemos orar pelos governantes, mas a mesma Bíblia estabelece
que eles foram instituídos para punir os ímpios e zelar pelos pobres, estabelecendo
a justiça e a paz.
A religião extorque com
os impostos religiosos (dízimos e ofertas), assim como a realeza se mantém pelo
extorquir via pesados impostos. A injustiça se dá no campo religioso e no
governamental: se, quanto mais eu oferto na igreja, mais sou abençoado, o pobre
está lascado. Se quanto mais rico eu for, menos imposto eu pago (jatinhos e
iates não pagam imposto!), o fato de ser rico me dá um plus para ser ainda mais
rico. O pobre paga mais e, por isto, está mais propenso a continuar na miséria.
Isto gera a concentração de renda via lógica draconiana, perversa, iníqua e
pecaminosa.
Na análise/diagnóstico
para se conhecer os falsos ou verdadeiros profetas não se pode usar a lógica
maniqueísta: se denuncio o governo A não significa, necessariamente, que sou a
favor do governo B. O profeta denuncia erros e injustiças, mas isto não o
compromete como apoiador da oposição. Sua posição sempre é de luta a favor dos
pobres e explorados.
Como disse o sábio: “Não havendo
profecia, o povo se corrompe” (Pr 29:18). Tomo a liberdade de modificar
ligeiramente: “Não havendo profecia o governo se corrompe”.
Marcos Inhauser