Por nove dias frequentei o PS São José, por causa da
internação de meu pai. Passei ali muitas horas, nos mais variados horários e até
de madrugada fiquei ali em vigília. Outras tantas vezes levei minha mãe e a
esperei durante o tempo que ela quis e suas forças aguentaram.
Não posso calar-me diante do que ali vi, vivi e presenciei.
A primeira foi a forma como meu pai foi recebido e atendido. Imediatamente
acolhido, em poucos minutos fui chamado para dar dados da situação da saúde
dele. Em meia hora me comunicaram que ele ficaria para observação e alguns
exames. Eu o acompanhei à enfermaria e vi dois enfermeiros “dando um jeito em
uma cama”, colocando na cabeceira alguns apoios de rolo de papel, porque ela
estava quebrada. Ouvi um dizer para o outro: “nós aqui sem camas decentes e o
doutor na Oscar Freire gastando os seiscentos milhões!”. Aquela foi a cama
destinada a meu pai e em nada ficou devendo às outras que ali estavam.
Comecei a perceber a forma carinhosa, atenciosa, competente
e humana com que enfermeiros/as e médicos/as atendiam a todos indistintamente.
Todas as vezes em que pedi a posição sobre a saúde do meu pai, nunca me
esconderam nada, antes, de forma clara me indicavam a gravidade do caso. Na
noite em que seu quadro se agravou, me avisaram do ocorrido.
Cuidaram do meu pai com dignidade, profissionalismo,
competência e dedicação. Da parte dos médicos vi a o esforço para recuperá-lo.
Quando pediram uma vaga no Ouro Verde para transferi-lo pedi a Deus que isto
não ocorresse. Vi o cuidado deles em deixar meu pai penteado, mesmo que
estivesse inconsciente.
Vi como eles atendiam e cuidavam dos demais. Uma pessoa ao
lado xingava e ofendia as enfermeiras. Eu estava ficando irritado. A enfermeira
veio para dar a ele remédio e o chamou de “meu amor” e aplicou a injeção com o
devido cuidado para que não o machucasse. Um final de tarde entraram uma mulher
surtada e um garoto de treze anos drogado. Os dois deram o maior escândalo. A
mulher precisou de cinco homens para contê-la. O garoto também precisou ser
contido. Eles o fizeram com cuidado e humanidade e em nenhum momento vi
irritação ou violência da parte dos funcionários/as e enfermeiros/as.
Em uma das vezes fiquei a pensar que o PS São José é um Templo
à Vida: sacerdotes e sacerdotisas, todos vocacionados, que são buscados por
quem precisa da benção da saúde e eles, no exercício de suas vocações e com
auxílio dos recursos, abençoam os que ali estão. Há na enfermaria um altar no
centro, onde estão estes sacerdotes e sacerdotisas da vida ministrando aos
enfermos.
Meu pai faleceu nas mãos destes sacerdotes e a ele somos
gratos (minha mãe, filhos, noras, netos/as, bisnetos/as). Ao PS São José o
nosso agradecimento e reconhecimento de que, em meio às agruras, dificuldades,
carências e displicências do poder público, cumprem com sua vocação de abençoar
aos enfermos.
O PS São José é um Templo à Vida.
Marcos Inhauser