Acredito que o
apóstolo Paulo, quando foi à Galácia, encontrou ali gente receptiva às novas
ideias, o que o levou a se dedicar em criar uma comunidade alicerçada na
teologia da graça e a completa libertação da escravidão das regras e
mandamentos. Feito o serviço, foi para outras bandas. Mais tarde recebeu
notícias que o deixaram frustrado. O que havia ensinado e posto em prática tinha
sido abandonado.
Escrevendo a
eles, em carta bastante biliática, exclama: “Ó
gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros … Sois assim insensatos que,
tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?”
(3:1-3). A frustração se devia ao retrocesso, à troca do excelente pelo
medíocre.
No trabalho pastoral tive este tipo de sentimento algumas vezes. Pessoas
e comunidades onde dei o sangue para ensinar a viver a graça e descobri, mais
tarde, que se deixaram levar pelo domínio de regras e mandamentos. Gente que
vem a mim elogiar pregadores de obviedades, anunciadores da justiça
retributiva, mendigos religiosos a pedir esmolas para sustento deste ou daquele
programa. Ouvir que Fulano é excelente pregador quando o elogiado foi duramente
criticado por um grupo de pastores com teologia anêmica, que pediu que ele
nunca mais fosse convidado. Gente que me manda vídeo de sermões horrorosos, no
anseio de me converter ao be-a-bá que abandonei há muito tempo. Gente que se
julga auxiliar e braço direito do Espírito Santo na obra da conversão,
convencimento e santificação!
A mesma frustração se pode
aplicar a outras esferas. Quem foi que vos fascinou para que, tendo começado no
combate pela ética, vos tornastes símbolo da corrupção? Quem vos fascinou para
que, tendo começado na luta pelos trabalhadores, vos tornastes a causa da maior
crise de empregos da história do Brasil? Quem vos fascinou para que hoje
condenes os instrumentos que vós usastes no passado?
Quem vos fascinou, ó Zé
Dirceu, para mudar o que dissestes em 1992, quando do impeachment do Collor: "Não é o presidente Ibsen Pinheiro, não são os
partidos que sustentam o processo de impeachment do presidente da República e
não é esta Casa; mas, sim, a Constituição que estabelece que a autorização é
matéria de competência da Câmara dos Deputados".
Quem vos fascinou, ó Aldo
Rebelo, para hoje pensar diferente do que pensavas em 1992: "Querem melhor
proteção, querem mais democracia, querem mais direito de defesa do que esta
Casa precisar de dois terços de seus votos para autorizar processo contra um
corrupto? Para que mais proteção? Para que mais democracia?".
Quem vos
fascinou, ó Aloizio Mercante, para que hoje negues o que dissestes em 1992:
"O desafio de consolidarmos a democracia no Brasil e darmos ao mundo o
exemplo de quem sabe corrigir os erros sem ferir a ordem constitucional.”
Seria o Fiat Elba do Collor mais
pecado que as pedaladas e decretos ilegais? Seriam os desvios do PC Farias mais
corrupção que o que já se sabe pela Lava Jato?
Quem vos fascinou? Ou deveria
ser a pergunta feita desta forma: o que vos fa$cinou para serdes hoje o oposto
do que dizias que serias?
Marcos Inhauser