Algo extremamente irritante é ouvir a exposição de um sujeito prolixo.
Para ir do Brasil ao Uruguai ela passeia apor toda a América e, ao final, você
se pergunta: onde queria mesmo chegar?
Certa feita, dando um curso sobre “Enxurrada Comunicacional”, as
queixas se centravam em dois aspectos: a quantidade de e-mails recebidos
diariamente, a maioria que deveria ser destinada ao lixo; a quantidade de
mensagens que, parece que tinham certa pertinência e que o destinatário tinha que
ler duas ou mais vezes, espremer o conteúdo, para saber o que o remetente
queria comunicar. Quase sempre o remetente gastava muito verbo para introduzir
o tema e o que ele queria mesmo dizer estava nas últimas linhas.
Pedi aos participantes que trouxessem seus notebooks e, durante o
curso, escolhessem um e-mail longo com pouco conteúdo. Um dos participantes foi
escolhido para, tendo apagado o remetente e qualquer possibilidade de
identificação dele, o colocasse no Datashow para que todos examinassem. Foi uma
risada só, porque, mesmo sem ser identificado, todos reconheceram o remetente.
Ele até tinha um apelido que rimava com seu nome: Longarino.
Assisti a uma prova de retórica onde um aluno tinha que apresentar seu
discurso para que o professor e os alunos o avaliassem. Depois de 45 minutos
falando nada, o professor o parou e disse que o que havia dito já era
suficiente para a avaliação. Ele então saiu-se com esta: “Mas eu ainda estou na
introdução!”
Ganhei um livro que tentei ler. O cara que escreveu o prefácio escreveu
mais que autora e nada disse. Nem terminei de ler o prefácio. Eu o dei de
presente a um inimigo.
Uma característica dos (pro)lixos é que não sabem e nem planejam o que
vão dizer. São arengadores onde um “causo puxa outro causo” e nunca causam
nada. O discurso pode até ter um título, mas a introdução, argumentação e
conclusão são peças desconexas. É o discurso Frankenstein.
Unidade passa longe. Misturam alhos com bugalhos, melancia com sopa. E
há os que usam palavras inusuais, para parecer que sabem coisas acima da média.
Pior é o que se acha doutor em algum assunto, inventa conceitos não
explicitados (e se tenta explicitar, ninguém entende). Acha que falar difícil
dá autoridade ao seu discurso de vento.
Uma imagem me vem à lembrança e ela é da minha infância: algodão doce.
Lembro-me que ficava ao lado da máquina vendo o sujeito colocar um pouco de
açúcar e aquilo virava uma montanha de doce. Quando se comia, ela se desfazia
na boca e nada alimentava. Nestas minhas
observações soube que dependendo do clima e o algodão doce não ficava bom.
Virava uma paçoca!
Algodão doce é o oposto da rapadura: caldo de cana de açúcar, muita
fervura, tempo de panela, resfriamento e se tem açúcar concentrado.
Tenho recebido muita coisa pela internet, seja pelo envio dos amigos ou
pelas sugestões das redes. Descobri que se lesse tudo, teria que aplicar a
regra de Pareto: 80% é lixo e 20% aproveitável. Por que perder tempo para ler o
que nada acrescenta, nada ensina, nada edifica?
Vou para por aqui para ser só “meio prolixo”.
Marcos Inhauser