Um casal apareceu em casa porque soube que minha filha
entendia de pedras preciosas. Eles haviam ganho de um andarilho uma pedra
lapidada que brilhava muito. O casal era evangélico, passava por momentos
difíceis e acreditaram no milagre da provisão.
Levaram a pedra para algumas pessoas tão leigas quanto eles
para que a examinassem e quase todos disseram que havia grande possibilidade de
ser um diamante. Olharam os preços de um diamante parecido e a cifra chegava à
casa do milhão. Eles nos mostraram a pedra e, confesso, ficamos surpresos com a
beleza dela. Chamei minha filha que morava na China e trabalha com pedras
preciosas. Ela pediu fotos em vários ângulos, pediu para ver se havia impureza
interior, se havia mancha de uma cor que eu não sabia identificar, mas minha
esposa e o casal conseguiram ver. Ao final, minha filha pediu para eu soltar a
pedra em cima do vidro da mesa. Deveria levantá-la a uns 30 centímetros e
soltar.
Assim procedi. Ela me pediu para falar no reservado e foi
quando ela sentenciou: “Pelo barulho na batida com o vidro isto é zircônio”.
“Você tem certeza?” “O som do diamante é outro”. Argumentei que o som era via
WhatsApp e do outro lado do mundo. “É zircônio!” concluiu ela.
No outro dia, minha esposa e o casal foram ver o seu Jozo,
um japonês amigo nosso e de nossa filha e que é um dos maiores gemologistas do
Brasil. Ele viu a pedra de longe e disse: “não é diamante e, para provar o que
digo, vou mostrar alguns testes para vocês acreditarem”. Ele assim fez e provou
que era zircônio de péssima qualidade.
Esta história me veio à mente ao ver gente cristã se
empolgando com a ondas de “babaquices pseudoteológicas”. Estão achando que
encontraram o diamante da teologia e da vida espiritual, que agora têm ao seu alcance
a pedra fundamental do entendimento bíblico, que agora sabem a chave
hermenêutica para todos os problemas espirituais e sofrimentos humanos, que
descobriram o Santo Graal da vida cristã, que têm a pedra teologal. Abraçam as
novidades como se diamante fossem. São alertados por quem tem alguma noção da
coisa, que trabalha com teologia e eles simplesmente dão de ombros. Acham que a
palavra do gemologista da teologia não é válida. Não acreditam que um perito
pode identificar pelo barulho que faz. Quem nunca mexeu com gemas teológicas,
se julga mais entendido que os gemologistas reconhecidos e respeitados.
A leitura literal e fundamentalista da Bíblia é mais
verdadeira que a feita por linguistas especializadas em grego koiné e hebraico
bíblico, ambas línguas mortas. Suas “descobertas”, mesmo que não tenham
comprovação arqueológica ou sejam refutadas por quem entende das coisas da
arqueologia, ainda assim é verdade absoluta. Acabam crendo no demônio da caspa,
esquizofrenia, psicopatia, depressão, bipolaridade. Exorcizam obesidade e
pobreza!
Mais tarde, quando a decepção vem porque descobrem que fizeram
um anel solitário com uma pedra de péssima qualidade, um zircônio de quinta
categoria, acusam Deus e o mundo de serem desonestos. Eles se revoltam e, via
de regra, deixam a fé e a comunidade de lado. Para não pagar o mico de terem
sido surdos às advertências dos gemologistas teológicos, fogem deles como o
diabo da cruz. Preferem o zircônio das novidades à credibilidade dos teólogos!
Mas, como dizia um ex-aluno meu, citando Nietsche (duvido
que o aforisma seja dele, mas mesmo assim muito válido): “todo palhaço tem sua
plateia!” E zircônio vira diamante!
Marcos Inhauser