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terça-feira, 21 de junho de 2011

ISTO VAI DAR ZICA

Há pouco tempo escrevi aqui sobre os dois países: Brasil e Brasília. Um beirando o inferno pelas precárias condições de educação, saúde e transporte, sufocado por pesados impostos, com bancos cobrando pelo ar que se respira nas agências. No outro, o paraíso. Trabalho de dois dias na semana, passagens aéreas gratuitas, um cardume de assessores pagos, verbas adicionais mil, e se suspeita que haja pagamentos para cada votação que favoreça a este ou aquele grupo. No paraíso não há Receita Federal, o Coaf não pega as transações milionárias e se consegue multiplicar por vinte o patrimônio, sem muito esforço. Ocorre que, no Brasil real e do real fictício, o populacho (assim visto pelos habitantes de Brasília) vem pouco a pouco tomando consciência de que as coisas estão insuportáveis. Estamos nos dando conta da quantidade de impostos e taxas embutidas e escondidas em cada coisa que compramos e isto vai minando o comportamento bovino que nos tem caracterizado e começamos a ficar mais ativos e, em alguns casos, agressivos com a exploração. Estes dias uma pessoa me contava que precisa abrir registro de autônomo. Ela foi à Prefeitura para saber o que deveria fazer e soube que terá que pagar uma taxa de mais de quinhentos reais nos três primeiros anos (quando se supõe que haja isenção de impostos) e depois disto passará a pagar 5% de tudo quanto faturar. A taxa é referente a um autônomo que tem ensino médio, porque, se teve a benção de ter um diploma universitário, a taxa mais que dobra. A pergunta que ele fez à funcionária é “o que recebo em troca por este pagamento?”. O silêncio foi esclarecedor. Ele deve pagar esta taxa e a PM não vai fazer nada, absolutamente nada. Uma outra amiga, da área médica com um consultório na região, teve no último ano três visitas de fiscais de saúde, que implicaram com uma geladeira mini que tinha para ter água e umas frutas para seu consumo, sob a legação de que a geladeira estava próxima à porta do banheiro. E dá-lhe multa. Quando a gente vai a um Posto de Saúde, uma escola mantida pela Prefeitura, uma chreche, percebe-se que a lei serve para os outros nunca para eles próprios. Nunca soube que um Posto de Saúde tenha sido multado pela Vigilância Sanitária do município, ou que uma escola municipal tenha sido interditada porque tem um refrigerador perto do banheiro. Pagamos impostos e pagamos escolas para nossos filhos porque o Estado não faz a sua parte. Pagamos planos médicos porque o sistema de saúde é um desastre. Pagamos pedágios (apesar do IPVA e a CIDE), pagamos segurança particular e guardas noturnos, no que pese pagarmos para ter a PM. A distância entre o Brasil e Brasília está criando um sentimento de insatisfação e irritação nos habitantes do Brasil real, que temo pelo pior. Não consigo ver mudanças significativas com a camarilha que habita Brasília, com passaportes e cidadania conferidos por votos comprados a peso de ouro via propaganda eleitoral e negociações de bastidores. Perdi a esperança na democracia representativa via voto obtido pela propaganda e marketing. Talvez a desobediência civil seja mais efetiva que o voto dos senhores de terno e gravata que se alimentam com o suor de um povo que vive no Brasil e não em Brasília. Marcos Inhauser