Aprendi que a verdade é a versão dos poderosos. Devo isto ao Michel Foucault. A verdade, segundo ele, e talvez outros tenham dito algo parecido a isto, é a versão que o detentor do poder dá aos fatos. Ela se estabelece como verdade porque os fracos não têm o poder de se fazer valer ou ouvir. Por isto (devo isto ao guru Zé Lima), a versão dos fracos e sem poder é “sub-versão”.
Ao estudar
história, percebi que a história que conhecemos é a versão dos poderosos. Ela é
a feita a partir de manuscritos, cerâmicas, construções, obeliscos, pirâmides,
santuários, sarcófagos, túmulos dos poderosos. Os pobres e marginalizados não
tinham como deixar construções, manuscritos e sarcófagos. Morriam e eram
apagados da história.
Ampliando o
conceito, a história é a versão dos poderosos nas suas vitórias contra inimigos
derrotados. O derrotado não deixava traços. Eram dizimados. Muitas das
inscrições do antigo Egito, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma são relatos de
vitoriosos. Um outro pequeno trecho de um derrotado apareceu e pouca
importância se deu a eles. Um deles é Šutruk-Naḫḫunte. Ele ganhou, muitos séculos depois, uma projeção
mínima no curta-metragem “The Palace Thief”, e a adaptação no “The Emperor's
Club”. Era um conquistador egomaníaco famoso em seus dias, mas praticamente
desconhecido hoje.
A maior
coletânea de história sobre marginalizados e pobres se tem na Bíblia. Em uma
sociedade extremamente patriarcal e machista, que o Antigo Testamento traga as
histórias de Débora, Sara, Hagar, Bate-Seba é surpreendente e inexplicável. Que
seja a história de um povo marginalizado, escravizado e peregrino, é também
inexplicável. É a maior coletânea de feitos históricos de pobres e excluídos.