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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

BANALIZAÇÃO DO SACRO E DO RELIGIOSO

Em conversas com alguns colegas pastores que já têm muita quilometragem no ministério, tenho percebido algumas coisas que vêm de encontro ao que também constato: a crescente banalização do sacro e do religioso (na sua forma mais autêntica e não formalmente institucionalizada); a repetição de erros conceituais e teológicos já demonstrados pela avaliação histórica; o crescente desprezo pelos reconhecidos pensadores da igreja.

A banalização do sacro e religioso tem se dado, a meu ver, pela pauperização das práticas cúlticas e litúrgicas, com o desprezo de uma longa caminhada de reflexões, experiências e resultados que a igreja, tanto a ocidental como a oriental fizeram ao longo dos anos. Símbolos caros a esta tradição são desprezados como se fossem lixo. É o mesmo que jogar as pinturas que estão no Louvre, inclusive a Mona Lisa sob o argumento de que elas promovem a sensualidade.

O segundo aspecto se dá nas prédicas. O que antes era a “a arte da retórica sacra” (ou homilética), com muito estudo, pesquisa bibliográfica, consulta aos teólogos, planejamento, conteúdo e unidade, virou uma arenga. É verdade que havia muita coisa bem estruturada, mas que não alimentava os ouvintes, tal como se deu na Europa no século XVII e ensejou o surgimento do Pietismo. Eram sermões profundamente teológicos, sem aplicação prática. A prédica de hoje, na maioria das igrejas, é a repetição de jargões, senso comum, clichês e frases que se parecem a pastel chinês: muita massa com pouco conteúdo.

Devo acrescentar a banalização da hinódia. Com raras exceções, os corinhos são anêmicos, sem reflexão, com a repetição de frases de efeito. Há os que são musicalizações de trechos bíblicos, no mais das vezes retirados de seu contexto. Comparados às letras e técnica musical dos hinos tradicionais, perdem de goleada. Há ainda os sermonetes que os líderes do louvor insistem em pregar entremeando os cânticos. São a quinta essência da afirmação oca, da repetição dos jargões, do falar nada. Parece que percebem que a letra nada diz e eles precisam ajudar com suas balelas.

Acrescento a facilidade e a quantidade de pessoas que se levantam durante o culto para ir beber água, especialmente quando há um bebedouro no interior do salão de cultos. Nunca vi povo com mais sede que os religiosos! Não percebem que este ato de se levantar e sair altera todo o sistema relacional e a concentração dos que ali estão. E, para minha indignação, o fazem com displicência, barulho e como que para chamar a atenção: olhem para mim que estou aqui!

A banalização do culto também se dá pela persistência de um grupo que costumeiramente chega atrasado. Se fosse para uma entrevista de trabalho, consulta médica, reunião com alguma autoridade lá estariam alguns minutos antes. Ao não serem pontuais comunicam que qualquer coisa é ou foi mais importante que estar no horário. E quando chegam, há os que se sentem na liberdade de saudar em voz alta, se desculpar pelo insistente atraso, cumprimentar quem chegou no horário. Transtornam o ambiente.

Tive um caso destes. O casal era pontual: todo domingo chegava com meia hora de atraso! Como ele era um dos encarregados da distribuição da Santa Ceia e ela era feita ao final do culto, decidi inverter a ordem. Para ele o distribuir os elementos era o máximo! Comecei o culto com a Santa Ceia. Ele não estava lá para o ato. Quando chegou de terno e gravata, a Ceia já havia sido celebrada. Ao final, quando percebeu que não foi ministrada no horário de costume, procurou se informar e veio prá cima de mim: “o que é isto de celebrar uma Santa Ceia subversiva?”

Faltam pastores melhor capacitados, liturgia bem estruturadas, sermões com densidade e palatáveis.
Marcos Inhauser