Há algumas palavras que, parecidas foneticamente, são
diferentes e enunciam significados próprios: conveniência, convivência,
conivência e competência. Lidamos com estas palavras (ou com o que elas
significam) a cada decisão que tomamos. Elas embasam atitudes e comportamento
social, regem valores éticos e, sobretudo, avaliações sobre os outros.
Há decisões que as tomamos por conveniência. Compro
determinado produto, pago com dinheiro ou cartão, segundo me for conveniente.
Vou de carro, ônibus ou avião de acordo com minhas conveniências. Hospedo-me na
casa de amigos ou prefiro um hotel, segundo o que me for mais conveniente. Para
vender algo em momento de crise, talvez me seja conveniente reduzir o
preço. A conveniência pode ser positiva
ou negativa. Ela será negativa quando o conveniente encobre erros ou crimes.
Há uma certa tendência de sermos favoráveis e privilegiarmos
quem conhecemos e com quem “já comemos um quilo de sal juntos”. Mas a verdade
oposta também pode ser considerada quando, por conhecermos a pessoa por termos
com ela convivido, fazemos juízo negativo. Dia destes sugeri uma pessoa para
uma posição e o meu interlocutor, por conhecer bem a pessoa que eu indicava,
foi taxativa: “não, é muito enrolada”. Há quem diga que a muito provável
decisão do Temer de nomear como Ministro da Justiça ao Alexandre Moraes, se
deve ao fato de serem amigos. O mesmo se diz do outro que fôra cotado para o
mesmo cargo, o Antonio Mariz.
Há as contemplações favoráveis que fazemos por conivência.
Avalio bem certa pessoa porque não quero que ele diga o que sabe de mim. Nomeio
este ou aquele porque pertence ao meu grupo de negociatas. As revelações da
Lava-jato mostram quantas nomeações, indicações e cargos foram contemplados por
parceiros do crime. Havia conivência.
Há agora a promessa do Temer de montar um ministério de
notáveis, o que, se deduz, de gente competente. Estamos cansados de ter gente
nomeada por conivência, por convivência (indicado por ser amigo), por convênio
partidário (a famosa coalizão). Aí estão fartos exemplos desta forma de se
montar uma equipe ministerial.
Na análise destes elementos me vem a pergunta: qual foi o
critério que se usou para colocar o Valdir Maranhão como vice-presidente na
chapa do Eduardo Cunha? Com certeza, não foi o da competência. Qual foi o
critério que se usou para manter o Mantega no ministério por tanto tempo,
apesar das lambanças feitas e que agora vêm à luz? Quais foram os critérios
para se colocar na tesouraria do partido ao Delúbio e o Vaccari? Quais os critérios
para o Temer se cercar do Geddel, Romero Jucá. Nascimento, Henrique Eduardo
Alves?
Mas a coisa complicou quando ontem, em uma decisão
surpreendente, o presidente interino (ou intestino?) da Câmara, em decisão
monocromática, mostrou toda a sua incompetência, complacência às pressões e
conveniência (quando percebeu que perderia o mandato e, por conseguinte o
mandato, o que lhe colocaria sem foro para enfrentar as acusações que sobre ele
pesam), foi inicialmente conivente, depois incompetente, depois conveniente e,
afinal, indecente ao revogar a decisão tomada horas antes.
Quando soube da notícia da anulação, o primeiro pensamento
que me veio à mente foi: virou circo! Somou-se à vergonha que tive ao ouvir
todos os votos dados na sessão da Câmara que aprovou a plausibilidade do impeachment:
um rosário de babaquices. Fui ver e ouvir as repercussões do ato e o sentimento
circense não me fugia da cabeça. Vi a espetacularização do embate no Senado e a
conveniência do senador Renan ao forçar a barra pela cassação do Delcídio, por
medo de ser acusado em plenário pelo delator-premiado.
Neste universo, chego à conclusão de que o sistema eleitoral
brasileiro não privilegia as competências, antes elege quem está em evidência
fabricada pela mídia e propaganda eleitoral.
Marcos Inhauser