Transcrevo aqui mais um texto do
meu amigo e colega Marcos Kopeska.
Acredito serem poucas as pessoas a
viver absolutamente satisfeitos com suas identidades e realizações. Parece que
temos a tendência de ambicionar ser o que não somos e vivemos insatisfeitos
como nossas conquistas e identidade. Ouvi a respeito de Julio Cesar, um dos
maiores estadistas da história que foi flagrado por um assessor em choro copioso
ante a estátua de Alexandre Magno. Quando perguntado da razão do choro,
respondeu em desconsolo: “Choro porque
não sou Alexandre, o Grande, que quando tinha mesma idade que tenho, conquistou
seu fabuloso império.” Cabe ressaltar que Alexandre Magno, da Macedônia, foi
o general mais vitorioso e de estratégias minuciosamente perfeitas, seguido por
Julio Cesar, imperador de Roma que veio quase quatro séculos depois.
Penso que em maior ou menor
escala, muitos de nós somos “Julio César”, chorando por não sermos quem gostaríamos de ser, comparando a idade que
temos com as idades que tinham nossos heróis quando dos seus grandes feitos. Acontece
que essa cobrança perversa nos impede de descansar naquilo que somos e nos tolhe
de sentirmo-nos dignos pelo que somos, no tempo em que chegamos onde chegamos.
Confesso que, em certa ocasião,
senti-me desnorteado sabendo que Charles H. Surgeon escreveu seu primeiro
tratado de teologia sistemática aos dezesseis anos de idade, enquanto aos
dezesseis eu nem ao menos falava em público. Senti-me inútil ao ler que Billy
Graham, aos trinta anos, já influenciava o mundo pregando sermões impactantes e
sendo conselheiro pessoal do presidente dos EUA, enquanto eu aos trinta, patinava
sofregamente no inglês e vivia enfurnado nos meus dilemas de pastor
interiorano. Senti-me inadequado quando olhava para quem tinha mais de cem
livros publicados, tinha doutorado em teologia, era conferencista, enquanto eu,
com quarenta e dois apenas administrava os caprichos de um grupo de líderes
nepotistas e confusos da igreja local. Confesso que demorei para fazer a oração
de Davi registrada no Saltério: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem
altivo o meu olhar; não
ando à procura de grandes coisas,
nem de coisas maravilhosas demais para mim.” (Sl 131:1). Cheguei
à conclusão que o que vale é a relevância
e não a importância. Descobri que,
por vezes, apenas o existir e cumprir fielmente nossa missão, é o maior legado
que podemos construir. Atinei-me de que, em muitas ocasiões, somos “João
Ninguém” aos nossos próprios olhos, vivendo na linha mediana da existência, não
obstante ao longo da história colocarmos em funcionamento importantes
engrenagens que farão parte do agir de Deus no tempo.
No presente não avaliamos os
desdobramentos que apenas se revelarão no futuro. Quando penso nisso, logo
lembro do discípulo de Damasco, Ananias, instrumento usado por Deus para orar
por Saulo de Tarso, quando da sua conversão e batismo do apóstolo. Ananias
batizou Saulo e desapareceu da história da igreja, enquanto Saulo se levantou
com inegável intrepidez para ser o maior teólogo e missionário da história. Ananias
foi uma destas engrenagens da história do cristianismo e o desdobramento foi a
evangelização do mundo de então. Ananias não foi importante, mas relevante.
Sendo assim, não sejamos afoitos
por holofotes, mas desejemos manifestar a soberania absoluta de Deus na cronologia
da vida, mesmo que você nunca venha a saber dos desdobramentos finais. Creia, nenhum
anonimato é pobre e desvalido, se Deus é soberano na história. Há nobreza em apenas
ser uma destas engrenagens da história quando o desfecho é a glória de Deus. Isso
nem sempre é importância, mas sempre será relevância.