Estou dando
um curso à distância para alunos que são hispanos nos Estados Unidos. O curso,
por causa da modalidade, é experiência nova para mim que sempre dei cursos
presenciais e podia “ler a classe” e acertar o caminhar do conteúdo com a
linguagem corporal dos alunos. As aulas versam sobre a história da igreja,
especialmente voltadas para os movimentos anabatistas e petistas.
Para que
houvesse certo consenso no que os alunos entendem como sendo igreja, dada a
diversidade de opiniões e conceitos, trabalhei dois elementos: a essência e a
forma da igreja. Por essência se deve entender aquilo que, se retirado ou
inexistente, deixa de ser igreja. É o mínimo necessário para que um agrupamento
religioso possa ser considerado como tal.
Por forma
se entende tudo o que “enfeita”, “adorna” a essência. Neste quesito está a
cultura, o idioma, as músicas, a liturgia, os cânticos, as vestimentas, os
horários e dias de reunião, a estrutura organizacional, os cargos e ofícios, as
celebrações, etc. A essência não pode mudar. É a mesma em qualquer lugar, mas a
forma deve mudar para que o grupo se adeque ao seu contexto e às pessoas que
dele participam.
Ainda que
possam parecer simples, estes dois elementos encontram dificuldade em ser
definidos, especialmente no que à essência se refere. Em um dos testes, pedi
que me listassem cinco elementos essenciais da igreja e tive tantas respostas
quanto alunos. A variedade do que entendem como essência me causou espécie, e
me fez refletir sobre o que se entendem como sendo igreja, o que eu entendo
como essencial e o que, histórica e teologicamente devem ser considerados como
elementos essenciais.
Um elemento
foi comum a todos eles: a centralidade de Cristo, ou o cristocentrismo. Na
avaliação das respostas dadas surpreendi-me em perceber que eu mesmo não
saberia dar os elementos essenciais que fossem consenso com outros colegas. No
refletir sobre o assunto, percebi que há um elemento que eu nunca havia
incluído. É sabido e ensinado que Jesus deixou a lei magna, pela qual toda a
lei de Deus é cumprida: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
si mesmo. Esta tríplice dimensão do amor (Deus, próximo e mim mesmo) deve estar
na essência da igreja. Ela deve promover o amor a Deus e isto, de uma forma ou
outra, questionável ou não, todas se declaram como imbuídas desta missão.
O problema
surge no exercício do amor ao próximo porque muitas segregam, discriminam
condenam ao diferente ou ao que não pertence ao grupo ou dele diverge nos
ensinamentos. Não é raro ver ou escutar de pessoas que foram condenadas ao
inferno porque não pertencem a esta ou aquela denominação ou “seita cristã”, de
igrejas que mandam ao inferno ao diferente por sua opção sexual, por ter
roubado, ou assassinado. Por se verem como “santos e santificados”, entendem
que pertencem a uma classe especial de seres humanos porque agraciados com a
benção da justificação e, pela presença e ação do Espírito Santo, se
comprometem com a santificação que os “tira do mundo”.
Mais ainda:
não há um compromisso sério de promover o amor a si mesmo, com medo de estar
promovendo o egoísmo. Antes, a pregação é culpabilizante, tripudiando a pessoa
com a ideia de uma velha criatura, qual cadáver insepulto que está a atormentar
o crente, levando-o à tentação e pecado. O ser humano convertido não é portador
de virtudes, mas de erros e pecados potenciais. Assim, as igrejas se
transformam em demolidoras de autoestima.
Marcos
Inhauser