Vivemos tempos em que as mudanças são
tantas que até neologismos precisam ser inventados para dar conta de apreender
parte do que está acontecendo. Elas abarcam todas as áreas da vida e
conhecimento e, para não ser exceção (ainda que alguns queiram que assim seja),
também afetam as igrejas e a maneira como se tem pensado a fé e vivido a vida
cristã.
É verdade que o anúncio e os ensinos feitos
por Jesus foram uma revolução para o modelo engessado e hierárquico da
religiosidade sacerdotal e templária. Quando Ele disse que iria destruir o
templo, Ele o fez de forma concreta, mas alternativa, na afirmação feita à Samaritana.
Diante da pergunta por ela feita se o lugar certo para adorar a Deus era no
monte em Samaria ou no Templo em Jerusalém, Jesus deu a resposta: “vem a hora
e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é
espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
Com isto Ele destronava o local geográfico da adoração e o colocava na atitude
do adorador.
Esta Sua colocação, ao que tudo indica, não foi compreendida pelos apóstolos,
uma vez que Pedro, Tiago e outros, se reuniam no templo e faziam do
cristianismo uma extensão ou reforma ao judaísmo. O cristianismo primitivo
(talvez o correto seja dizer de cristianismo primitivos, porque houve muitas
formas de se entender e viver a fé), de uma postura orgânica e não-institucional,
sentiu a necessidade de, aos poucos, ir elaborando suas crenças e sistematiza-las.
Os grandes embates nos primeiros séculos foram no sentido da afirmação da fé
genuína e a condenação das heresias.
Com isto, a igreja se institucionalizou, fortaleceu e afirmou a
“verdade” e condenou as “heresias”. Verdade era o que a instituição afirmava.
Heresia o que os alternativos diziam. Era a verdade do poder eclesial.
Com a reforma houve uma verdade alternativa, também institucionalizada
nas igrejas reformadas e no poder de sistematização dos reformadores.
Este modelo se construiu e se sustentou nas igrejas reformadas na base
do tripé: confissão de fé (condensado das afirmações da instituição), pregação
monológica de um educado em teologia e disciplina dos que se aventuravam por
caminhos não confessionais. Na Católica a base era a autoridade papal e
episcopal, a celebração dos sacramentos e a aplicação da excomunhão.
Desde a Reforma as igrejas protestantes e históricas obedecem a este
modelo. Com o advento das igrejas pentecostais, a pregação cedeu a preeminência
para os testemunhos. Mesmo assim, o modelo monológico foi praticado à exaustão.
A igreja é formada, então de “ouvintes” e não de participantes. Uma igreja de uma
boca e muitas orelhas!
Este modelo vem ruindo com a nova geração, mais afeita às redes sociais
e à possibilidade de dar a opinião. Os pastores engravatados estão perdendo
autoridade e influência para jovens que postam suas convicções nas redes
sociais, sem nenhum compromisso com a história do pensamento cristão e com a
lógica. A nova igreja se reúne nos Facebooks, Tweetes e Youtubes, cada qual falando o que quiser, e
com uma enxurrada de críticas, muitas ácidas. É o evangelho “segundo o que
penso”. “Eu sou a verdade”.
Onde isto vai dar? É o que teólogos, estudiosos, cristãos com mais de 40
anos estão se perguntando. Seria um modelo de fé “desigrejada”, sem a comunhão
com os outros?
Se alguém souber a resposta, por favor, me avise e compartilhe.
Marcos Inhauser