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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O VALE DA MORTE


O salmo 23 é um dos textos mais conhecidos no mundo e muitos o sabem de memória. Usando da metáfora do pastor e das ovelhas, traz algumas lições preciosas que tem sido de alento para muitos, especialmente em momentos de sofrimento.
Algumas coisas, no entanto, precisam ser destacadas para que este Salmo não diga o que ele não quer dizer e nem pode dizer. A primeira delas é que se trata de uma oração humana e não de uma promessa divina. Ainda que esteja na Bíblia e muitos a tomem como palavra de Deus, os Salmos, na quase totalidade, são orações humanas dirigidas a Deus. No caso específico do Salmo 23, mais que uma promessa de Deus de que “nada faltará”, que haverá “pastos verdejantes”, “águas tranquilas”, consolação no “vale da sombra da morte”, devemos entende-lo como desejo e súplica humanas. Quando estamos no sufoco, no vale da sombra da morte, queremos ser guiados para águas tranquilas e comida farta.
Com certeza, este Salmo está sendo recitado, clamado, e tem provocado muitas lágrimas ao lê-lo, especialmente pelos que estão diretamente relacionados com a tragédia de Brumadinho. Estão todos no “vale da sombra da morte”, assim como estiveram os moradores de Mariana.
Com o perdão do trocadilho, ocorre que a Vale é a sombra da morte e nela não há conforto algum, haja visto que até hoje ninguém responsável pelo desastre de Mariana foi punido, as famílias continuam sem ter onde morar e as desculpas se multiplicam. Agora vem o vale de Brumadinho que se transformou em vale de morte por incúria da Vale.
Neste turbilhão de fatos, notícias, opiniões, pareceres, diagnósticos de especialistas, percebe-se por parte de gente mais proximamente relacionada aos fatos que há uma batalha de palavras. Uns falam de tragédia anunciada, outros de tragédia, outros que foi um acidente e há quem tenha o desplante de dizer que foi um incidente. Vem o outro dizer que a barragem estava inativa há três anos, que há laudo de setembro atestando a estabilidade do sistema, que havia planos de fuga, etc. Nada disto é “vara e cajado” que consolam. A Vale é especialista em pegar os pastos verdes e entregar às suas ovelhas os dejetos da grama que come. Onde a Vale está, as águas não são tranquilas, mas vales de morte. Mariana e Brumadinho vão competir com o vale egípcio onde se enterravam os faraós: aqui vai ter muitos mais corpos sepultados.
Se Deus é onipresente, a Vale tem seu sentido de onipresença, porque está por toda parte, especialmente em Minas Gerais. Ela foi uma benção (dádiva) gestada pelas privatizações do governo FHC, vendida na bacia das almas a preço irrisório. O que era para ser um Vale de Benção se transformou em cemitério.
No marketing da empresa divulgados recentemente se fala da Vale com o abuso do prefixo “re”: reinventar, redescobrir, etc. Faltou falar de “reincidir”. A Vale vem se mostrando especialista em reincidir nas práticas delituosas e criminais de morte no atacado e crime ambiental. Acho que a Vale não se recupera. Tá viciada no lucro a qualquer custo, mesmo que sejam vidas humanas.
Haverá algum consolo para os que foram afetados? Haverá cajado (disciplina) para os responsáveis? Eu de minha parte, baseado nos fatos anteriores, não tenho esperança.
Marcos Inhauser