Estava, pela primeira vez, em Nova York. Havia esquecido minha necessaire no banheiro do avião e não a recuperei. Precisava de pasta de dente, sabonete, desodorante, fio dental, escova de dente.
Fui ao supermercado próximo ao hotel em que estava
hospedado. Fiquei doido! Tal era a quantidade de marcas, tamanhos e sabores de
pasta de dente, que fiquei olhando aquele mundaréu de opções e não sabia
decidir. Tive uma paralisia de opção.
O mesmo se deu com o desodorante e o sabonete. Foi uma
tortura ter que decidir. A vontade era
comprar duas ou três de cada coisa e decidir depois, no hotel, qual era a
melhor. A mesma situação já vivi em floricultura, para comprar peixes
ornamentais para dar de presente, em loja de roupas e sapatos. Quanto mais
opções eu tenho, mais paralisado eu fico. Decidi: o primeiro que eu gostar vai
ser o que vou levar. Nem sempre gosto logo de início e a tortura se instala.
Estamos vivendo a era das opiniões. Todo mundo tem opinião
sobre tudo! Leia uma notícia e vá ver os comentários que a seguem. Uma profusão
de obviedades e barbaridades agressivas. Acabo de ver um vídeo de uma pessoa
que se apresenta com “intindido” das coisas da teologia. Umas três ou quatro
vezes ele pronunciou alguns termos de forma errada (ex. previlégio e não
privilégio, inreponsabilidade e não irresponsabilidade). Fez uma baita confusão
entre Teologia Liberal, Teologia da Libertação e Teologia de Esquerda, que saí
do vídeo com se estivesse em Seul sem Waze. Ele não consegue distinguir a
figura histórica de Jesus dos Evangelhos e afirma que as duas coisas são a
mesma, agride os universalistas sem apresentar um único argumento próprio etc.
Fala que ortodoxia é o que os primeiros concílios da igreja decidiram, mas tem
medo de falar em Concílios Ecumênicos (termo apropriado, mas que, para ele, ao
que parece, seria concessão à heresia citar a palavra “ecumênico”).
O mundo religioso, mal denominado de evangélico, padece da
mesma sina. Um monte de pregadores, um querendo ser mais eloquente que o outro,
cada qual trazendo uma coisa original, acabam apresentando uma plêiade de
opções aos ouvintes que eles, tal como eu no supermercado, ficam perdidos, sem
GPS ou Waze para lhes dar o norte.
No restaurante por quilo que se transformou a internet e os
pregadores virtuais, há gosto para tudo, mas a variedade deixa as pessoas
confundidas e perdidas. Tem gente que serve de tudo um pouco e fazem pratos
indigestos. O que mais se encontra é sermão de sucesso e autoajuda.
A cada pouco alguém vem me perguntar o que acho sobre isto
ou aquilo que eles ouviram de um pregador em uma “live”. A grande deles nunca
estudou história da Igreja, teologia bíblica, interpretação bíblica. Falam o
que lhes vêm à mente. Não importa que seja abobrinha. Tal a ânsia de likes e
inscritos, tem quem se apresente como “pregador internacional”, só porque
pregou em Pedro Juan Caballero, do outro lado de Ponta Porã. Há uma mendicância
virtual por likes e inscrições!
Parece que estamos revivendo o que sentenciou o Cronista
bíblico: “por muito tempo Israel esteve sem o verdadeiro Deus, sem sacerdote
que o ensinasse e sem lei”. O que vale hoje são aos apaniguados na fila do
beija-mão das “otoridades”, como se a proximidade a eles lhes desse o selo de
qualidade e infalibilidade no que fazem e ensinam.
São os pregadores com selo Decotelli de qualidade!
Marcos Inhauser