A cada pouco ouvimos notícias de barbaridades cometidas,
seja na queima de ônibus, chacinas, tiroteio, acompanhadas da informação de que
as ordens para tais atos teriam partido de lideranças de facções que atuam
dentro e fora dos presídios. Por preciosismo ou outra razão, não citam o nome
das facções ou dos líderes que determinaram as ordens. Uma coisa é recorrente nestes
casos: pouco ou quase nada se sabe das investigações e do andamento dos
processos contra os envolvidos.
Sabe-se que não é de hoje que o sistema prisional está
loteado entre as fações criminosas, que os presos, quando estão no mesmo
presídio, precisam ser separados por facções ou devem ser separados segundo o
presídio para cada facção. Sabe-se que o crime organizado tem tentáculos em
várias áreas da atividade econômica, desde estacionamentos, comércios, postos
de gasolina, transporte urbano, vans, TV a cabo, venda de gás, transportadoras,
etc.
As refregas com direito a tiroteio nas favelas do Rio
mostram como o território está loteado segundo cada grupo.
Por outro lado, mas não tão diferente, aparecem as notícias
de loteamento da máquina pública. Notícias recentes dão conta do loteamento do
Ministério do Trabalho, com a venda de inscrições de sindicatos, nomeação de
parentes e apaniguados, para que cada qual agisse em favor da facção ou partido
que pertence. Cada partido tem seu feudo, seja no ministério do Trabalho ou
outro qualquer, sendo que alguns destes feudos são mais cobiçados, como por
exemplo o do Transportes, Turismo, Cidades, Saúde, em função da quantidade de
verba que cada um maneja.
Há um condomínio na máquina pública, onde alguns próceres da
ação escusa são os donos do espaço, haja visto a condenação do deputado Meurer
e seus filhos, que comandavam a nomeação e garantiam a sustentação do gerente
na Petrobrás. Investigações várias e em diversas áreas, mostram como este
sindicato do crime está na máquina pública fazendo dele um condomínio do crime,
com os tiroteios verbais e chantagens explicitas e implícitas. Que não se tente
mexer no domínio territorial desta ou daquela facção: fritarão ministros,
derrubarão secretários executivos de ministérios, apoiarão delações premiadas,
delatarão o inimaginável e o irreal só para atrapalhar a vida de quem tenta.
Neste condomínio do crime aparecem síndicos e ex-síndicos,
com a cara de santos, afirmando que nunca souberam de nada, que as
contribuições foram legais e declaradas à Justiça ou à Receita Federal, que
nunca fizeram nada ilegal, blá, blá, blá. Um deles, que foi o Ministro das
Eternas Desgraças na Economia e que tinha o discurso da Polyana, vem agora a
público reconhecer que tinha uma conta de seiscentos mil dólares no exterior.
Só falta dizer que se esqueceu de declarar. Justamente ele que cobrou centavos
de Imposto de Renda, que se negou a reajustar a tabela do IR, aumentando
indiretamente o imposto ano a ano.
Qual diferença entre as facções que operam dentro e fora dos
presídios e as que operam dentro e fora dos ministérios? Eles ordenam a queima
de ônibus, os outros queimam leitos de hospital, merenda escolar, ambulâncias,
remédios, com seus cortes de verbas e/ou desvios. Os primeiros traficam drogas
e roubam cargas, os segundos são a própria droga e roubam merendas.
Os primeiros conquistam seu espaços à base da bala, os
segundos o fazem pelo voto manipulados via programa televisivo, manipulação das
mídias sociais e pela compra de votos. Os primeiros sabem quem são e assumem
quem são. Os segundos afirmam ser “legítimos representantes do povo
brasileiro”.
Marcos Inhauser