Estamos
assustados com os milhões que correm solto nos vários esquemas revelados pela
Lava Jato. Pior: o Joesley nem fala de milhões, mas de “milhão”, tudo no
singular, como se um, dois ou mais fossem a mesma coisa.
No entanto,
há um tipo de corrupção miúda correndo solto, que nem sempre estamos atentos a
ela e que prejudica tanto ou mais que a corrupção graúda. Por ser pequena não
há delação premiada, nem TV. Falo das microcorrupções.
Quem nunca
viu em um restaurante, bar, padaria, alguns policiais parados como se
estivessem protegendo aquele patrimônio específico? Quem nunca viu eles comerem
algo, almoçarem e saírem sem pagar, como “cortesia da casa”? Isto não favorece
o estabelecimento em uma relação de desigualdade quando se tratar de eventos
concomitantes? Se há dois eventos e eles tiverem que atender a este ou aquele,
qual deles vão preferir atender? O que lhes dá comida de graça ou o sujeito que
nunca souberam sequer que existia?
Quem nunca
viu policiais, especialmente os rodoviários, pegando caronas em viagens
intermunicipais? Param o ônibus, sobem, quase sempre ficam em pé ao lado do
motorista e vão com ele conversando. Em quase todos os ônibus há um alerta de
que se deve falar com o motorista o estritamente necessário. Mas se é Policial
Rodoviário pode conversar e falar de tudo, de futebol a política. Se a conversa
distrai o motorista como faz supor o aviso, porque ele pode ficar conversando?
Se amanhã ou depois este policial flagrar este “amigo motorista” em alguma
infração, terá ele o mesmo rigor que terá com um cidadão comum? Não é isto uma
forma de “amaciar” e reduzir multas?
Outro caso:
a pessoa está em um Pronto Socorro, na fila para ser atendido e um parente fica
sabendo que estão demorando para atender. Ele conhece o prefeito, o vice ou
algum vereador e liga para a “autoridade” relatando o ocorrido. Porque sabe que
atender ao pedido estabelecerá uma relação de dívida, o prefeito ou vereador
liga para a unidade de saúde e pede para dar prioridade ao caso do parente que
está na fila e este é imediatamente atendido e, se for o caso, hospitalizado. O
paciente e os parentes vão ser “gratos” e votos estão sendo cabalados. Ocorre
que esta pronta ação do “dependente dos votos” implica que alguém que estava na
fila vai ficar para trás, que quando chegar a vez do próximo e este precisar de
um leito, não vai ter porque o paciente que tem boas relações políticas, furou
a fila.
A pessoa é
policial e está viajando com seu carro, dirigindo-o em alta velocidade. Ele é
parado pela Polícia Rodoviária. O motorista desce do carro e bate continência
para o patrulheiro rodoviário. No máximo, o que pode ocorre é que o rodoviário
diga que ele está acima do limite de velocidade, mas o “espírito de corpo” não
vai permitir que ele “prejudique o colega”.
As
constantes visitas do Gilmar Mendes e do Toffoli ao Temer e, especialmente, as
decisões favoráveis às causas do presidente dadas por estes dois, devo entender
como sendo coincidência (como querem fazer supor), ou como troca de favores? O
insuspeito absoluto, ao presidir o TSE no julgamento da chapa Dilma/Temer, não
fez um grande favor ao amigo? O antigo advogado do Dirceu e do PT, ao pedir
vistas para um processo que ele não mais conseguirá reverter o resultado, o fez
por preciosismo jurídico ou para favorecer a um grupo seleto de indiciados que
temem a primeira instância?
Marcos
Inhauser