Aprendi o Salmo 1 de memória na minha
infância, antes mesmo de saber ler. A memorização completa dava direito a um
brinde na Escola Dominical da qual eu participava. Desde aquela época eu não
entendia o que significava o “assentar-se na roda dos escarnecedores”. Fui ao
dicionário e encontrei como afrontoso, difamador, oprobrioso,
motejador, zombador, zombeteiro. Mas nunca havia entendido direito a
tal da roda dos escarnecedores.
Por algumas vezes pensei que sentar-se com os amigos e
contar umas piadas pudesse ser a roda. Outra, pensei que seriam as conversas
das/os fofoqueiras/os. Quando trabalhei no presídio, cheguei a pensar que uma
cela e suas conversa pudesse ser.
Mas foi só recentemente que a ficha foi caindo. O
primeiro degrau da ficha caindo foi no julgamento da chapa Dilma-Temer, quando,
no que pese a abundância de provas e a muito bem fundamentada relatoria, alguns
ministros do TSE, capitaneados pelo escarnecedor-mór, o Gilmar Benevolente
Mendes, mandaram às favas as provas e decidiram absolver o amigo do ministro
narcísico. Para mim aquilo foi uma afronta ao Direito, à justiça e à seriedade
que se espera de um colegiado de juízes.
O segundo degrau da queda da ficha foi no julgamento
da “questão Aécio”, quando, no exercício de sofismas indecifráveis, a
presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, proferiu um voto transversal, que
cada qual entendeu como quis. A coisa foi tão deprimente e desastrada que ela
mesma não teve a coragem de pronunciar o que havia decidido, cabendo ao
ministro decano, Celso de Mello, “costurar o remendo” que ela havia proferido.
O STF criava o Supremo Tribunal Congressual, maior em poder que o Supremo
Tribunal Federal, pois uma decisão do STF poderia ser cassada pelo STC. O STF
deu uma atropelada no princípio básico de qualquer estado de direito: não pode
alguém ser julgado por si mesmo, por seus parentes, ou por pessoas que estão
sob sua influência. A Carmen deu aos acusado o direito de dizer se queriam ou
não ser julgados.
Deu no que deu: Aécio livre, todo serelepe, cassando o
presidente interino, colocando uma pessoa de sua confiança, detonando o
partido, e sei lá o que mais pode acontecer.
Escárnio foi a soltura do Geddel, muito mais quando se
sabe que, na sua prisão domiciliar, aproveitou para destruir provas. Escárnio
foi a soltura do Zé Dirceu, do Barata (amigo do ministro narcísico), a prisão
domiciliar do Abdelmassih, o acordo de delação premiada da JBS e outros casos
mais que recentemente abalaram a fé pública em um judiciário independente.
Escárnio máximo foi a decisão da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Em tempo recorde, atropelando a bom
senso e o regimento, revogaram a decisão unânime do colegiado de juízes e emitiram
ordem de soltura, como se para tanto tivessem autoridade. Os deputados se
assentaram em roda, na Assembleia Legislativa e, juntos, escarneceram dos
funcionários públicos que não recebem salários porque uma quadrilha (ou
“familha”) meteu a mão. Quem, na casa, não sabia das maracutaias? Quem não se
beneficiou delas? Tanto que até parlamentar de oposição votou a favor da
soltura do chefe da familha.
Estamos a ponto de ver outro escárnio. O STF que
decidiu pela prisão de condenados em segunda instância, está a ponto de
escarnecer e rever a decisão tomada. A razão: alguns amigos dos togados estão
ao ponto de serem presos. Basta ver as dezenas de ligações telefônicas entre o
Aécio e o Gilmar, reveladas pela PF. O Renan, Jucá, Padilha, Moreira Franco,
Sarney, Rodrigo Maia, e outros estão na mira da segunda instância. Vamos
livrá-los! Este é o lema!
Marcos Inhauser