Quero compartilhar uma constatação que faço, depois de muitos
anos dando aulas. Tenho mais de 35 anos como professor em vários níveis e em
diferentes locais. Como trabalho com uma área que envolve abstração (conceitos
teológicos e filosóficos), venho percebendo, ao longo dos anos, uma acentuada
deterioração na capacidade dos alunos em conseguir trabalhar conceitos e certa
aversão pelo aprofundamento de temas.
Expressão como “isto é baboseira”, “estudar estas coisas é
perda de tempo”, “o que eu ganho sabendo isto”, “estou cansado de teologia,
quero vida cristã”, “não preciso de teologia, preciso de poder para expulsar
demônios e curar”, “de que adianta um sermão bem estudado se a igreja não enche
de gente?”, “para encher a igreja de gente não é necessário saber teologia” são
por mim ouvidas com frequência cada vez maior.
Confesso que me arrepiam estas afirmações (e outras mais que
não elenquei por falta de espaço). Estamos vivendo, não só no campo teológico,
mas em todas as áreas, um processo de superficialização do saber. Cada vez mais
sabemos menos sobre menos coisas. O que interessa é o fácil, o intuitivo,
aquilo que dá para fazer sem precisar ler nenhum manual de instrução. Os
celulares, smaRtphones, tablets, Ipods e Ipads são os queridinhos porque podem
ser usados sem grandes conhecimentos. É tudo intuitivo e mesmo uma criança pega
e em poucos minutos já está sabendo as funções básicas.
Da mesma forma devem ser os livros didáticos: intuitivos. Os
cursinhos preparatórios para concursos e vestibulares, no mais das vezes,
ensinam o “pulo do gato” na hora de responder. Os cursos precisam formar em
menos tempo. Querem uma graduação em dois anos ou menos. O que interessa é o
diploma na parede e no currículo. O saber, isto é outra coisa.
A predileção pelo fácil, superficial e rápido passou a ser a
característica destes tempos. Tudo tem que ser intuitivo, sem trabalho. O arroz
que você cozinha dentro de um saquinho e que não queima, fica molinho e
soltinho, mesmo sem saber cozinhar. A lasanha que é só colocar no micro-ondas.
A pipoca que não suja panela com óleo da fritura. Verduras e legumes que já vêm
cortados. Carne que se compra temperada. Frango assado pronto. Jornais que só
tem os titulares (quem tem tempo para ler a notícia toda?). Os feeds de
notícias estão aí para provar isto.
Gasta-se mais tempo nos games que nos processos de aprendizado.
Livrarias se fecham, mas lojas de jogos se proliferam. Os livros perderam
espaço para os aparelhos eletrônicos. O saber aprofundado vai sendo substituído
pelas soluções mágicas dos avatares. Há muita tinta gasta com fofocas de
celebridades. Ibope para BBB é exemplo desta opção pelo fácil, superficial e
rápido: para ganhar um milhão e meio em poucos dias sem fazer nada, vale
qualquer coisa. Para aumentar o Ibope vale até a simulação de um estupro,
providencialmente ocorrido ou marketeiramente planejado.
Há horas que bate uma desesperança tão grande!
Marcos Inhauser