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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

OS ADJETIVOS NÃO O ADJETIVARAM



No sábado dia 13 faleceu Aziz Miguel João, um tio que ganhei por ter me casado com sua sobrinha. Eu o conheci há 48 anos e aprendi a admirá-lo porque ele tinha qualidades que eu não tenho e o invejava por isto. Nunca o vi bravo e nunca soube de alguma vez que ele tivesse ficado bravo. Isto não significa que tivesse sangue de barata, antes, pelo contrário, tinha seus valores e princípios e não claudicava em preservá-los e vivenciá-los.

Conheci sua mãe, seus irmãos, irmã, sobrinhos, alguns cunhados, primos. Nunca ouvi de nenhum deles uma palavra que fosse alguma crítica ao Aziz. Uma única pessoa lhe fazia alguma restrição porque lhe pediu dinheiro emprestado e ele disse que não emprestaria. A pessoa achava que ele tinha a obrigação de emprestar. Assim era ele: sabia posicionar-se e as pessoas não o viam bravo, irritado, mas sabiam sua opinião e decisão.

Comerciante, teve negócios em Jales, onde viveu boa parte de sua vida. A primeira etapa da vida ele a viveu em Urupês, tendo se casado com a Hania. Depois do casamento é que se mudou e radicou em Jales. Pessoa conhecida e respeitada na cidade por sua honestidade e comprometimento com os princípios evangélicos, foi membro atuante na Igreja Batista. Fazia dos carros que possuía um ministério, conduzindo gente das periferias para assistir aos cultos. Durante a semana visitava cidades vizinhas para levar pregadores e começar novos trabalhos. Não me lembro de alguma vez tê-lo visto pregando e nunca soube que o fizesse. Gostava, sim, de cantar. Tinha voz forte e afinada. Também se arriscava a tocar alguma coisa no piano e no teclado.

No seu sepultamento, por concessão do poder público e pela notoriedade dele na cidade, permitiu-se que o corpo fosse velado no templo da igreja que ele frequentou durante todo o tempo que viveu em Jales. Lá estive e fui vendo as pessoas que se acercavam e ouvi muita coisa que elas disseram às filhas, esposa, netas, neto. Todos exaltando a vida e qualidade do falecido. Comecei a pensar que, como nunca havia visto antes, ninguém precisava exagerar ou mentir para falar dele. Ele não ficou santo depois que morreu: ele já era um santo em vida. Ele era tudo o que as pessoas falavam dele e todos os adjetivos usados não conseguiam dimensionar o caráter, a natureza, a índole e a benção que ele foi na vida de muita gente.

Ele nunca leu Dietrich Bonhoeffer, o teólogo alemão que afirmava que “a missão do cristão é ser Cristo para o outro”. Mesmo sem ter lido Bonhoeffer ele encarnou como poucos que eu conheço esta máxima missional: ele foi Cristo para todos os que cruzaram seu caminho.

Deus me deu a benção de conhecê-lo e conviver com ele nas muitas vezes que o visitei. Algumas destas vezes cruzamos a praça que havia em frente à sua casa, no centro comercial da cidade. Atravessá-la era um exercício de paciência, pela muitas vezes que era abordado e as pessoas queriam saudá-lo e contar alguma coisa, quase sempre da família, pois ele se interessava pela vida familiar das pessoas que a ele se acercavam.

Já ouvi muitas vezes pregadores e leigos dizerem que viver a vida cristã é difícil, é um fardo, cheio de abnegações. Conviver com o Aziz era perceber que a vida cristã é uma alegria e felicidade para quem a vive na intensidade do amor ao próximo.

Ele era uma pessoa que irradiava alegria e felicidade. Ele “sorria com os olhos”.

Marcos Inhauser