Depois de vários anos morando fora do Brasil e muito mais
tempo para morando fora da casa de meus pais, voltei para lá para ali estar por
alguns dias. À noite, levantei-me para ir ao banheiro e, sem pensar ou tentar
lembrar, eu sabia onde estava o interruptor e acendi a lâmpada sem problemas.
Em seguida fui à cozinha e fui buscar o interruptor e não o encontrei. Eu sabia
onde estava, mas, em função de uma reforma, havia mudado de lado. Eu fiquei
perdido.
Por que eu sabia o do banheiro e não o da cozinha. Como eu
“sabia” se eu não precisei pensar, rememorar ou tomar uma decisão a respeito?
Eu simplesmente sabia pelo hábito de, durante anos, ir ao banheiro e saber onde
estava o interruptor.
Lembrei-me disto nestes dias. Dirigindo na Califórnia,
estava focado nas regras e sinalizações de trânsito. O “Pare” é “Pare”! Se não
brecar o carro e olhar para entrar, é sinal de problemas se algum guarda
estiver à espreita. No vermelho se pode dobrar à direita se não houver carros
vindo. Vira e mexe eu me atrapalho com o “Pare” e só olho e mantenho a marcha
se não houver nada que me impeça de fazê-lo. Por outro lado, no sinal vermelho,
é minha tendência parar e esperar que o sinal abra para eu fazer a conversão à
direita. Isto se deve a um hábito arraigado de dirigir no Brasil. Mesmo
sabendo, não faço!
Dia destes, estava parado em um semáforo, meio absorto e dirigindo
“no automático”. Eu esperava o sinal abrir para seguir em frente. Sem prestar
atenção ao sinal, vi que os carros que estavam na mão oposta se movimentaram e
eu arranquei. Não era a minha vez, mas o sinal autorizava para virar à
esquerda. Quase uma trombada. Eu estava na força do hábito, uma vez que, no
Brasil, são raríssimos os semáforos de três tempos que me permitem virar à
esquerda. Eu “sabia” que assim é aqui, mas este conhecimento não valeu. O força
do hábito foi maior. Para dirigir aqui, terei que praticar muitas vezes para
que meu hábito arraigado nos “meus ossos” determine um comportamento diferente.
Outra coisa que me intrigou é como eu “sei” que devo falar
em inglês com meus netos e o faço de forma automática. Quando estou com
hispanos, “sei” que devo falar em espanhol e com os brasileiros em português.
Não preciso “decidir”. Sai no automático.
Estas coisas se estendem a outras coisas menos importantes.
Não preciso decidir comer de boca fechada, colocar a mão na frente da boca
quando vou tossir ou espirrar, não fazer barulho “chupando” a sopa que está na
colher, lavar as mãos depois de usar o banheiro, etc. Estes são saberes
incorporados pela repetição desde a mais tenra infância, de tal forma que minha
identidade é também formada por estes saberes inconscientes, mas que se tornam
visíveis e notados quando a eles presto atenção. Mas também sou mais do que
conheço a meu respeito e nem sempre sei dar razão a algumas coisas que faço
automaticamente. Nem tudo sei explicar e o que explico sobre mim, nem sempre
está correto. Sou um enigma para mim mesmo!
As terapias analíticas tentam me fazer descobrir este
subsolo da minha (in)consciência. Podem fazer bom trabalho, mas arrancam uma ou
duas camadas da escavação de um poço escuro que todos somos. Ainda é vigente o
alerta do filósofo: conhece-te a ti mesmo!
Marcos Inhauser
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