Na minha última coluna pontuei alguns aspectos
característicos do sábio e do profeta e a distinção entre eles. Recebi alguns
comentários que me levaram a refletir mais sobre o assunto e a ele quero
voltar.
Tanto o sábio como o profeta são pessoas de fala comedida e
campos limitados de atuação. Como eles não têm resposta para tudo, sabem que o
silêncio é sabedoria. O sábio fala pouco porque sua fala é fruto da reflexão,
análise, investigação e, assim creio, ele é sábio em uma ou outra área, mas não
o é em todos os assuntos. Uma pessoa que se acha entendida em todas as áreas,
que entende de cesariana a motor a explosão, não é sábia: é cega e não se
enxerga. Elas me fazem lembrar uma coisa que vi escrita em um muro de uma
oficina mecânica em Manágua, Nicarágua: “especialista em carros nacionais e
estrangeiros”. A primeira questão que me veio à mente foi perguntar qual era o
carro nacional nicaraguense. A segunda foi questionar como podia entender de
tudo.
Disto se tem duas características para se conhecer o
falastrão do sábio, o verdadeiro do falso: quem fala muito, dá bom dia prá
cavalo, fala besteiras, vomita insensatez. Disto temos exemplos no cenário
brasileiro, especialmente no campo da política. A segunda é que o verdadeiro
sábio não fala do que não entende, não julga o que não sabe, não acusa de ser
falso o que não compreende. Se o faz é tolo e não sábio. É falso sábio.
Fiquei a me perguntar e revisar minhas memórias de um falso
sábio e, confesso, não o encontrei. A razão para isto é que o falso sábio é
descoberto e desacreditado em pouco tempo. Basta algumas conversas para que sua
tolice seja explicitada e o pretenso sábio passa a ser motivo de chacotas.
Quero acrescentar uma terceira característica: o falso sábio
se proclama como tal. Ele se afirma como sábio, se comporta como se tal fosse,
se intitula como tal. No máximo tem um séquito de alguns cegos tão tolos quanto
ele, que o aplaudem, muitas vezes familiares tão tolos quanto. O verdadeiro
sábio é reconhecido como tal e nunca autoproclamado.
Há outra questão. O sábio, me parece, se atém à área das
humanas. Ele fala e se posiciona sobre comportamento, valores, ética,
conflitos, etc. O equivalente do sábio para as ciências e arte é o gênio.
Einstein, Da Vinci, Michelangelo, Thomas Edson, Pascal, Lavoisier não são
chamados de sábios, mas de gênios. Einstein era gênio, mas no campo das
relações humanas, especialmente nas relações familiares, era um desastre. Da
Vinci era um procrastinador inveterado e entregou meia dúzia das muitas
encomendas que recebeu e que por elas recebeu. Michelangelo era de difícil
trato, bem retratado no filme “Agonia e Êxtase”. Prosaicas são as histórias
sobre o gênio Steve Job.
No entanto, a bem da verdade, devo admitir, alguns poetas
maravilhosos, escritores talentosos, músicos que quase nos fazem tocar o divino
quando os ouvimos, ainda que estejam na área que eu definiria como própria para
os sábios, não são assim chamados. Penso em Frost, Victor Hugo, Goethe, Platão,
Aristóteles e outros que são mais comumente chamados de gênios e não de sábios.
Para finalizar, não é a política o campo para os sábios.
Eles têm um compromisso com a verdade, coisa rara na política. Alguns bons
políticos são chamados de estadistas, mas não de sábios. Abraham Lincoln talvez
possa ser considerado como tal, Mandela é outro. Estadista é o título para os
políticos que se destacam e lideram a classe. Muitos políticos, especialmente
os falastrões, estão mais para tolos que para sábios.
Quem sabe ler entenderá!
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