Quantas vezes você já
fez promessas de que faria regime, exercícios físicos, estudaria todo dia,
leria 10 livros por anos? Quantas destas decisões foram cumpridas? Quantas
coisas que você “sabe” que deve fazer ou mudar e nunca fez ou mudou?
O saber muda? Esta é
uma pergunta que fui instigado a fazer para mim mesmo e tenho feito a algumas
pessoas e percebo que, comigo e com outras pessoas, o fato de saber não
garante, necessariamente, a mudança nos meus hábitos. Quantos viciados,
alcoólatras, diabéticos que “sabem” que drogar-se, beber ou comer doces
prejudica a saúde e a vida deles e que continuam nas mesmas práticas?
Quantas mães perderam
horas aconselhando seus filhos, ensinando coisas e que veem seu trabalho
frustrado porque seus filhos, a despeito de tudo o que ela disse, se envolveram
com as coisas para as quais foram alertados? O questionamento não é novo, nem
sou eu só que o faço. Já o apóstolo Paulo o fazia (e muito provavelmente outros
antes deles, que não conheço): “Pois o que
faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço,
isso faço. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico
... o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.” (Romanos 7: 15-17).
O dilema é: se sei o que devo fazer e decido fazê-lo, por que
nem sempre a decisão consciente que tomo se transforma em ação correspondente?
A explicação mais plausível que se tem até o momento é que existem variáveis
outras, inconscientes ou conscientes, que interferem no processo volitivo e o
sabota, inoculando a ação e fazendo-a abortar.
No processo de entender estes “mecanismos subterrâneos” há a psicanálise,
a interpretação de sonhos, a terapia da linha do tempo, a regressão, a hipnose,
a terapia cognitiva, behavioral, a abordagem sistêmica, a das constelações
familiares e assim por diante por diante. Cada uma delas tem seu valor e
apresentam seus resultados, mas, ao fim e ao cabo, sempre fica algo escondido.
Diante disto, a máxima de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”,
tem sua razão de ser e é pertinente a todos nós. Se ela ainda é valida e a
busca por conhecer-se deve ser uma missão individual e solidária, porque
conhecer-se implica em ouvir o que outros têm a dizer sobre mim e perscrutar o
que posso conhecer olhando para dentro de mim. Ocorre que, como humanos, sempre
nos vemos melhores do que somos e do que os outros nos veem.
Há que considerar-se a capacidade humana de auto-engano.
Acreditamos nas mentiras que contamos para nós mesmos. E, talvez, a mais
terrível delas é enganar-se achando que nos conhecemos profundamente e cada
entranha do consciente e inconsciente. A frase “eu me conheço” é uma mentira
que acredito porque ela é produzida por mim e para mim mesmo. Acho que é aqui
se aplica a máxima sapiencial: “Aquele que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se
contra a verdadeira sabedoria. O tolo não tem prazer no entendimento, mas tão
somente em revelar a sua opinião.” (Provérbios 18:1-2).
O conhecer-se se dá no ambiente
relacional. Outra vez o sábio: “... na multidão de conselheiros há sabedoria.”
(Provérbios 11:14).
Em outras palavras, somos um enigma
para nós mesmos!
Marcos Inhauser
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