Lá chegando fomos recebidos por alguns líderes da igreja que
já nos conheciam e nos assentamos. Para surpresa minha, o pastor entrou pelo
corredor central em processional. Estranhei porque conheço a forma de ser desta
igreja e da denominação. Os pastores entram pela porta lateral ao púlpito, sem
alarde ou exibição. Ele, no entanto, entrou pela porta central, fez a
processional e, fiquei pasmo, estava vestido com uma beca usada por mestres e
doutores e usada em cerimônias acadêmicas. Ele mal tinha concluído o bacharel!
Era uma túnica pesada, destoante com o calor que fazia. Era a prova de um
exibicionismo descabido.
Começou o culto e o indivíduo, com a voz empostada, fez a
oração inicial, leu os Salmos, fez comentários e convidou a igreja a cantar um
cântico que ele havia composto. Pegou o violão a começou a tocar a “seu” hino.
Havia piano e órgão, mas ele se bastava ao violão. Terminado o cântico, ele leu
outro trecho das Escrituras com aquela voz empostada, antinatural e entoou o
solo de um cântico que ele também havia composto. No momento dos pedidos de
oração pediu que a igreja orasse pelo CD que estava gravando para que fosse uma
benção na vida de quem o comprasse. Ninguém mais teve a oportunidade de pedir
que orassem.
Contou alguma coisa sobre sua vida e iniciou a prédica,
onde, se me lembro bem, duas ilustrações eram sobre experiências próprias. Pediu
que cantassem outro cântico que ele havia composto, ao som do violão que ele
tocava.
Terminou o culto dando a benção apostólica com uma música de
sua autoria e saiu da forma como entrou.
Ao sair minha esposa perguntou: para que existe piano e
órgão no templo se ele é quem faz tudo? Lembro-me de haver dito: “ele bate o
escanteio e corre para a área para cabecear e celebra o gol sozinho como se
fosse o único em campo.” Devo dizer que não durou muito naquela igreja e em
nenhuma outra.
O mesmo acontece com a equipe de louvor. Terminada sua
“apresentação”, deixam o templo, porque, para eles, o culto acabou. Eles são o
culto! Preste atenção nos “cultos”
televisivos do neopentecostalismo: só o midiático aparece e faz tudo!
Episódios como este eu os presenciei em outras oportunidades
em variadas igrejas no Brasil e no exterior.
A igreja é uma comunidade. A igreja é uma cooperativa de
dons e habilidades. Todos na igreja devem participar, cada qual com seu dom e
habilidade. Paulo colocou isto de forma magistral: “o corpo inteiro bem
ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de
cada parte, efetua o seu crescimento para edificação ...” Se na igreja há alguém que tem um dom ou
habilidade e não é usado, é uma anomalia. O culto de um só é uma excrescência,
porque o “polifacético e polivalente” faz tudo. Ele entende de música, de
decoração, de liturgia, de exposição bíblica, cita grego e hebraico, ensina,
exorta, arrecada, administra, assina, entrega, devolve. Quando confrontado, se
exime citando autores e uma lógica egoísta.
Ele não ajunta, espalha. Não pastoreia, se exibe. O púlpito
vira palco. Manda instalar holofotes para que seja iluminado enquanto performa.
Graças a Deus, os narcisos não prevalecerão na congregação
dos humildes!
Marcos Inhauser
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