O culto é a prática que reúne e dá direção para tudo o que
fazemos como cristãos. É a realização prática e visível da fé, de tal forma que
não se pode separar o culto da experiência completa da vida cristã. Tenho lá
minhas dificuldades quando se adjetiva os cultos e se segmenta a experiência
com rótulos como: Culto da Família, Culto da Benção, Culto de Evangelização,
Culto da Prosperidade, etc. O culto é completo e nunca pode ser segmentado.
O culto cristão é e deve sempre ser a expressão holística da
vida, de tal forma que o culto é a apresentação de nossos atos diários de amor
ao próximo e exemplo para os demais, incentivando-os a também terem vidas de
adoração. Ainda que se possa entender o culto como adoração, onde se confere a
Deus o valor que Ele tem por Sua natureza, precisamos estar cientes de que não
somos nós que nos aproximamos dEle no culto, mas é Ele quem se aproxima de nós
e nos fala pela Sua Palavra.
Sendo assim, não é culto o que não transforma o adorador. Ele
entra em um culto e cultua, com a disposição de ouvir e mudar em sua vida com o
que lhe é revelado neste momento por Deus, através da Sua palavra. No culto ele
recebe as instruções de como viver no meio de um mundo profano.
O culto em si não tem o poder e a eficácia. Ele será eficaz na
vida dos que, reconhecendo sua condição pecadora, reconhecem a santidade de
Deus e se dispõem a mudar seus atos e vidas para que sejam vividas de forma
harmônica com os ensinamentos da Palavra.
É neste sentido que o apóstolo Paulo pede que se preste culto
agradável a Deus que é o culto racional, onde a pessoa se entrega a Ele em
sacrifício vivo. Quando isto acontece, o culto se transforma em algo da mais
alta importância e relevância na vida do ser humano.
A experiência cúltica é o encontro com o numinoso. O profeta
Habacuque coloca este encontro em termos de silêncio: “... o Senhor está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio
toda a terra" (Hb 2:20); “Toda criatura esteja em silêncio diante do Senhor:
ei-lo que surge de sua santa morada” (Zc
2:13). Creio que foi Karl Barth quem disse que o louvor verdadeiro se faz com o
silêncio humano. Gritaria e barulheira não fazem parte do culto.
Assim entendido, não
cabe no culto lugar para a magia, entendida como meio de manipular a divindade
a fazer o que se quer, pelo uso de ritos, oferendas ou ofertas (em dinheiro). O
culto não se presta a dar ordens a Deus, mas sim, para se receber dEle as
orientações para a vida. O culto não muda a vontade de Deus, mas transforma a
mente do adorador.
Quando esta
transformação acontece, o adorador terá visão mais ampla e própria da realidade
que o cerca, da polis onde vive e será movido a atuar no seu contexto de forma
a vivenciar o que no culto lhe foi revelado. Assim, a fé se transforma em atos
cívicos, a sua ação tem um componente político, uma vez que será pautada por
valores outros que os dominantes na sociedade. O adorador viverá a
contracultura da fé e sua vivência será sal na terra e luz no mundo. O culto se
torna cidadão!
Marcos Inhauser
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