Há alguns cristãos que se envolvem com a política e confundem
as luzes que vêm das Escrituras e da igreja como sendo as do programa de um
partido político e acabam transformando sua militância como igual à sua vida
cristã. Eles se esquecem que Deus não está em competição com a natureza, mas
que Deus e somente Deus pode ser Jesus Cristo, perfeitamente humano e divino,
não se confundindo com as coisas criadas como se estas fossem extensões do Seu
ser, concepção ao gosto dos panteístas. Nenhum governo, programa de governo,
partido ou programa partidário pode ser tão divino ao ponto de ser tomado como
sendo manifestações do Reino de Deus. Este foi o grande problema dos adeptos da
teologia do Destino Manifesto, que confundiram o American Way of Life como sendo o próprio Reino de Deus.
Os que se envolvem com a política partidária precisam se
lembrar constantemente que Deus não fez e age no mundo via manipulação,
violência, chantagem ou injustiça, tal como muitos dos mitos e deuses pagãos fazem.
Porque Deus criou as coisas do nada (creatio
ex nihilo), a criação foi um ato da mais pura generosidade e graça. Se os
religiosos-políticos não entenderem isto (a generosidade e graça divinas na
criação), eles se sentirão compelidos e autorizados a praticarem atos injustos,
iníquos e corruptos.
É o amor e a qualidade dele, exercido por Deus na criação e na
manutenção das coisas criadas, que define e determina a maneira como devemos
viver em comunidade e que deve ser a vida em comunhão. A liberdade separada do
amor só pode se tornar em licenciosidade, forma deturpada de amor e mera busca
da felicidade. Assim procedendo, os programas terceirizam o amor, mas ao mesmo
o privatizam como sendo atos de governo (vide Bolsa Família e outros programas
sociais). Adicionam a este cardápio a departamentalização da comunhão: nós e
eles, governo e oposição, eleitos e golpistas.
A igreja de Jesus Cristo e seus fieis não devem buscar o poder
político como projeto eclesiástico. A igreja que se identifica com um partido
ou o utiliza para ter mecanismos de pressão pela eleição de deputados via
manipulação dos fieis para votar nos pastores e bispos da Igreja, deixou de ser
igreja e passou a ser ente político. Deixou de servir para servir-se do poder.
Cristãos que se envolvem com a política devem ter consciência
de que devem ser exemplo de integridade, serviço e amor ao próximo. Não podem
estar associados ao serviço retributivo ao próximo, esperando recompensa em
votos de possíveis favorecidos ou fazendo advocacia de porta de cadeia, nem
podem ser forjadores de documentos falsos, mesmo que lhe emprestem certa
legalidade, ainda que fajuta. Devem ser exemplo de trabalho em comunhão e nunca
se enquadrar no que Pedro escreveu: “como
dominadores sobre os que vos foram confiados” (1 Pedro 5:2,3). Devem
dar o exemplo do serviço e nunca chantagear o rebanho com a “retirada da
proteção espiritual que o pastor oferece”.
Como pode ser um cristão político, exercendo cargo no
executivo ou legislativo se não deu exemplo no trato das questões de obediência
aos princípios da Palavra (como não mentir, não roubar, não prestar falso
juramento, não ameaçar, não chantagear, não se colocar como absoluto)? Terá ele
mais ética no trato da coisa pública do que teve na relação com o próximo e com
Deus? Como esperar que obedeça à Constituição se não obedeceu ao Estatuto e
Regimento Interno de sua comunidade? Que usa da Igreja para lavar dinheiro de
propina? Que recebe salário sem trabalhar? Que usa o nome da Igreja para
legitimar seu trabalho solitário de angariar votos?
Há gente que se diz especialista em leis, não para cumpri-las,
mas para burlá-las, para manipular juízes. Nisto está a diferença que um dia um
estrangeiro me mostrou: “na Europa, quando se promulga uma lei, o povo busca como
cumpri-la; no Brasil, diante da nova lei, busca-se como burlá-la”.
Marcos Inhauser
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