Há muita gente que
entende haver antagonismo entre a fé e a racionalidade e as veem como
excludentes: quem tem fé não pode pensar e quem pensa perde a fé. Para muitos,
a ida dos jovens à faculdade ou universidade é de alto risco para a fé, porque
muitos “se perdem”.
Há que considerar-se que o ser humano precisa pensar e é
impossível viver sem fazê-lo. Conhecer fatos e entendê-los faz parte da
essência da vida. Ainda que haja graus de interesse no descobrir das causas e
desenvolvimento das coisas, todos têm um grau de interesse em saber das coisas.
O pensamento é a ferramenta que promove a ação. Assim, o pensamento no contexto
da ação é o que se manifesta no início e término do ato de reflexão sobre um
fato ou situação dada. É a novidade do fato ou do evento que leva à necessidade
de conhecer e agir diante dele e isto só se dá porque houve o pensamento.
Coloca-se em ordem o pensamento, compreende e diante da compreensão decide o
que fazer diante da novidade. Não há decisão e nem ação sem o pensamento, fruto
da reflexão.
Conclui-se, então, que o pensamento não é estático, uma
coleção de conteúdos guardados no fichário da mente e recuperado incólume a
cada vez que dele se necessita. Ele é um jogo de operações vivas, atuantes,
transformados pela nova experiência, interpretação e contexto.
Se pensar é entender o fato, o evento ou a novidade, nada
mais lógico que a fé envolve o pensar. Se se crê em um Deus todo poderoso que
nos surpreende a cada momento com a novidade de Suas ações, que pede que se
cante cânticos novos a Ele todos os dias, que a cada dia pinta no amanhecer e
no pôr-do-sol uma nova pintura, que a cada pouco nos maravilha com Sua graça,
como ter fé “congelada”? A fé baseada em conceitos que vão para o freezer da
memória e lá ficam inalterados até o dia da morte, não pode ser chamada de fé.
Um Deus que se mostra em novidade a cada dia e em cada
situação, não pode ser adorado, servido e entendido com afirmações rígidas,
inflexíveis, dogmáticas, sistemáticas. Por isto afirmo, e o faço no temor, que
o conservador não entende de Deus. Deus não cabe nas afirmações dogmáticas,
sistemáticas, nas teologias enlatadas e nas jaulas de templos onde impera a
arrogância da ignorância. Ele pode dizer o que Deus fez no passado, mas nunca
vai entender o que Ele está fazendo hoje e agora. Ele usa métodos arqueológicos
para explicar Deus. Arqueólogos não podem ser criativos, mas devem ser
interpretativos, com alto grau de “chutabilidade”. Tremo (de raiva) quando ouço
frases como; “ a vontade de Deus nesta situação é...”; “o que Deus quer de você
é...”; “Deus está usando isto para te ensinar a ...”; “tenho uma palavra de
Deus para você...”, etc.
Os conservadores, e ainda mais os fundamentalistas, falam de
um Deus do passado, mas não conseguem ver este Deus no caminhar junto aos seus
no dia-a-dia. Creem no totaliter aliter,
mas não acreditam no Emanuel (o Deus conosco, ao lado, passando comigo os
perrengues da vida). O texto de Hebreus que afirma que “Ele em tudo foi igual a
nós” é esquecido.
Creio no Deus que anda comigo no jardim do Éden que é a
criação que Ele me deu para desfrutar e que me fala no sussurro da brisa, no
barulho do gotejar da chuva, no canto dos pássaros e na palavra dos profetas,
que me revela quem sou na Sua Palavra!
Marcos Inhauser
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