Imagine a seguinte situação: alugo um carro porque quero fazer uma viagem de quatro mil quilômetros. Há todo um regulamento para o uso do veículo e garantias de assistência técnica. Depois de uns setecentos quilômetros, percebo que o carro não era o que eu desejava. Havia contratado um carro com potência e certos confortos e percebo que ele não é lá estas coisas. Mas como tenho que viajar, fui andando com ele, lamentando a distância entre a expectativa e a realidade.
Quando
estava lá pelos dois mil quilômetros percebo que o motor estava vazando óleo e
o consumo havia aumentado significativamente. Levo o assunto à locadora que
culpa o fabricante do carro, o óleo nacional, a gasolina. Pergunto se podia
trocar por outro e recebo a resposta que não podia. Pergunto se podia parar em
uma oficina para ver o que acontecia e me dizem que só se fosse nas oficinas da
própria locadora e a que está mais próxima está a mil quilômetros.
Aciono a
ouvidoria da empresa e o assunto vai para a gaveta. Aciono o Procom e este pede
que a locadora imediatamente faça um diagnóstico nas condições do carro. Na
hora de fazê-lo, sou aconselhado a não mexer agora que estou no meio da viagem
e que isto atrapalharia os planos e a imagem da locadora. Pergunto o que faço e
ouço a resposta: deixa fundir o motor!
Nesta
quarta o STF deve se pronunciar sobre a conveniência ou não de se instalar
imediatamente a CPI da Pandemia. Há quem argumente que fazer este diagnóstico
para a falta de potência e vazamentos de óleo do motor presidencial e do Ministério
da Saúde é complicar o momento que vivemos, que traria estresse ao sistema, que
há indevida interferência do Judiciário no Legislativo, que haveria uma crise
sistêmica, blá, blá, blá.
O motor do
Executivo está perdendo potência a cada quilômetro rodado. Vaza óleo de todo
lado e não entrega o que prometeu e contratado foi. Questionado, culpa Deus e
todo mundo, mas nunca assume a responsabilidade pelos erros e caos. Prefere se
interessar pelo som do carro e não pelo motor que dá sinais de problemas
sérios.
Quando se
pede para fazer um diagnóstico, vem com a conversa de que seria melhor fazer um
checkup completo, ou ele, na marra, manda fazer uma retífica no motor. Tentou
dar uma ajeitada na coisa, trocou umas peças, tirou umas daqui e colocou ali,
chamou algumas novas, todas do seu bairro, e a coisa não rende, não anda.
Aguardemos
a resposta oficial para o problema: ou se faz o diagnóstico ou continua rodando
e deixa o motor fundir!
Marco
Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário