Texto Fábio Blanco:
“Ser justo é bom. No entanto, não existe justiça sem amor,
como não existe justiça sem coerência. Amor e coerência são como que a balança
que permite que a justiça seja aplicada com equilíbrio.
No entanto, as pessoas estão sofrendo uma demasiada pressão
social por serem justas, sem que lhes seja exigido, da mesma maneira, que
tenham amor e coerência.
É uma pressão por estar do “lado certo” da sociedade, o que
significa participar de julgamentos coletivos, de justiçamentos sociais, de
determinar que certas atitudes, grupos, crenças e convicções, apenas por não se
encaixarem nas novas concepções desta nova geração, são condenáveis.
Assim, estar do lado certo tornou-se o objetivo e a
necessidade de muita gente, pois colocar-se fora dele é como viver um
ostracismo em meio à multidão. Pior, é como ser marcado por uma letra
escarlate.
Isso gera nas pessoas um anseio por parecerem boas, por
parecerem corretas. Antes de qualquer coisa, elas querem ter certeza que estão
sendo vistas como defensoras da causa certa. Querem ter a consciência limpa,
levantando as bandeiras que disseram para elas que são as mais justas.
O problema é que a maior parte dessas bandeiras são
hipócritas. São, na verdade, julgamentos prévios que, longe de fazer justiça,
criam ainda mais preconceitos. O resultado não poderia ser outro: enquanto os
justiceiros sociais defendem liberdades, agem como censuradores, enquanto falam
em igualdade, promovem a segregação, enquanto gritam por tolerância, são os primeiros
a não respeitar a opinião alheia. No fim das contas, se há algo que caracteriza
todos esses movimentos é a incoerência.
No entanto, convenhamos, ninguém quer ser considerado
incoerente. Mesmo esses justiceiros sociais possuem, como todo ser humano, uma
necessidade intrínseca de serem vistos como pessoas que fazem aquilo que falam
e agem de acordo com o que pregam.
Isso significa que se elas são incoerentes não é porque
querem, mas porque não percebem. E se elas não percebem é porque lhes falta
habilidade cognitiva para tanto. Resumindo: a incoerência das causas modernas
é, antes de tudo, um efeito do baixíssimo nível intelectual geral.
Fica evidente que muito dos erros cometidos hoje em dia, sob
os pretextos de moralidade, bondade e justiça, são efeitos de falhas de
pensamento, da inabilidade de construir raciocínios corretamente e da
incapacidade de perceber esses erros. Claro que tudo isso está aliado a uma
falta de sensibilidade para perceber as injustiças que cometem e até uma certa
hipocrisia.
Porém, parece-me que menos do que perversidade, é a burrice
que está por trás de quase todos esses movimentos. Sem esquecer, é claro, que a
ignorância, como se diz, “é vizinha da maldade.”
Completo: para quem há quase vinte anos escreve uma coluna
semanal em um jornal com expressão, sente-se na pele estas injustiças de quem,
lendo não entende o que se escreveu ou quem lê e acha que eu disse o que eu não
disse. E quando reagem aos que escrevi, fico pasmo porque me parece que estão
voltando às eras primitivas da escrita: o uso da scripto continua, quando não havia ponto final, nem vírgula, nem
exclamação.
A ignorância das verdades absolutas tem sido mato a grassar
o ambiente ecológico das relações humanas, separando uns e outros.
Marcos Inhauser
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