Uma coisa é saber de memória todas as peças musicais de
Mozart ou Beethoven. Outra é saber executar cada uma delas, executando-as com
perfeição. O primeiro é conhecimento, o segundo é habilidade. A habilidade pode
prescindir do conhecimento, mas para tocar Mozart ou Beethoven, o conhecimento
é fundamental. Sem ele e só no exercício da habilidade pode se tocar qualquer
coisa, menos as obras dos gênios da música.
Conhecimento e habilidade associados formam um exímio
pianista ou, até mesmo, um regente. Mas conhecer profundamente e tocar
perfeitamente o que eles escreveram e compuseram não torna ninguém um
compositor. Há uma enorme distância entre ser um virtuoso no piano e ser um
compositor, mesmo que de músicas medíocres.
Posso ler todas as obras T. S. Elliot, posso recitar seus
poemas com maestria e perfeição, dando quase-realidade ao que ele escreveu, mas
daí a eu ser um poeta, vai uma distância de anos-luz.
Para ser genial na música ou na poesia não basta conhecer,
mas é fundamental ter a originalidade e a rejeição do que é senso comum. É
lançar um “olhar e proposta rebeldes” sobre o que se tem. Excelentes alunos na
escola, que tiram nota dez em quase tudo, não serão gênios nesta ou naquela
área, porque aprenderam a repetir o que lhes foi ensinado. As notas tiradas
mostram o cabestreamento que o sistema educacional colocou, obrigando-os a
saber exatamente como ensinaram, responder na ponta da língua, de preferência
com as mesmas palavras. Qualquer desvio é punido com notas baixas.
Eles se dedicam de corpo e alma em conhecer o que há e não
em produzir coisa nova. Bons alunos dificilmente serão gênios criativos. Eles
podem sofrer com o sistema, mas não estão treinados a questionar, desafiar,
mudar, rejeitar. A palavra-chave é obediência. E repetição. “Sempre foi assim e
continuará sendo assim”.
Não serão o “aluno-do-ano” ou o “empregado-modelo” que
mudarão o mundo. Se queremos mudanças não peça a eles. Estudos têm mostrado que
as pessoas que conseguiram mudar o mundo ou uma área do mundo não foram
crianças excepcionais na escola. Porque se rebelaram contra o sistema
impositivo do conhecimento existente, tiveram a audácia de propor coisa nova,
diferente, que foi uma ruptura com o dado. Os alunos “caxias” fazem de tudo
para receber a aprovação dos pais e professores e para isto reproduzem o que
existe. Os alunos rebeldes não se prestam a agradar ao sistema, mas em propor
novidades.
A ênfase no sucesso é uma forma de “criar autômatos”. Para
se ter sucesso precisa ser obediente, seguir as regras, trilhar caminhos já
percorridos. Leem o que podem de biografias de pessoas que foram exitosas e
tentam repetir o que eles fizerem para chegar ao topo. Quanto mais se valoriza
o sucesso, menos se dá asas à imaginação da criatividade. É a busca incessante
do sucesso garantido.
Para ser um gênio e mudar o mundo é preciso ter a coragem
para a destruição criativa. O novo e a invenção, requerem que coisas velhas
sejam derrubadas, quebradas, destruídas. Estabelece uma ruptura no modo de
fazer e propõe a novidade. É revolução e não reforma. Para ser original há que
se ter estrutura emocional e resiliência para aguentar os trancos e pauladas
que os conservadores darão. Ser a novidade é coisa para gente grande,
emocionalmente bem firmada. É perseguir o objetivo mesmo que isto custe
milhares de tentativas frustradas, como foi com Thomas Edison até que inventou
a lâmpada.
Marcos Inhauser
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